08 março 2010

Noite dos Oscars

Já começa a ser um ritual.
Na noite dos Oscars, lá vou eu para o sofá, agarro num cobertor para me aquecer as pernas e arranjo coisas de comer para o estômago não sentir também a diferença de temperatura.
Ontem não foi excepção e à uma da manhã lá estava eu com os olhos sintonizados na TVI (parte chata da coisa).
Da famosa "red carpet", não falo muito e deixo o assunto para especialistas (tipo revista Caras ou Nova Gente), mas gostei particularmente de ver o George Clooney a quebrar o protocolo e a andar que nem um maluco a cumprimentar os curiosos atrás das grades que por lá andavam.
Falando da cerimónia em si, não prometia grande coisa. 
Não havia filmes soberbos este ano, tirando uma ou outra excepção (mas já lá vamos), e a luta marido vs. mulher parecia ter ganho contornos épicos. Aquilo que mais me alegrava era poder ver um dos mais talentosos actores de comédia do momento, Alec Baldwin, a apresentar em conjunto com o veterano Steve Martin. Mas, e começo já por concluir, a parelha não foi espectacular. Tirando alguns momentos bem tirados, não houve grande inspiração - ou seria tempo, já que decidiram cortar à duração do programa para chamar mais audiência? - e acabei por sair um pouco desiludido com a apresentação. Até porque a organização prometia a primeira hora de programa mais dinâmica e fantástica de sempre, e eu só me lembrava do Hugh Jackman no ano passado (que já não foi nada de especial, veja-se lá). A rapidez com que despacham agora os vencedores é também constrangedora... Afinal, os heróis da festa são eles, e quando apenas têm 45 segundos para falar...
Falando agora da distribuição das estatuetas douradas, "The Hurt Locker" limpou aquilo (quase) tudo. Até algumas das categorias técnicas que seria de esperar que fossem para "Avatar" acabaram por ir para o filme de Kathryn Bigelow sobre a guerra do Iraque. Por falar na realizadora, esta edição dos Oscars acabou por ser histórica, já que foi a primeira vez que uma mulher conquistou a estatueta mais querida, num "mundo" habitualmente dominado por homens. Espero sinceramente que as coisas vão mudando, porque fazem falta outras visões na sétima arte.
"The Hurt Locker", um dos mais improváveis vencedores de sempre, conseguiu a proeza de ser um filme independente, de ter um orçamento reduzido, de ter andado em festivais europeus há 2 anos e de apenas ter entrado no mercado americano no ano passado (facto que lhe permitiu concorrer) e de vencer o mais caro e programado filme de toda a história cinematográfica. Aliás, passou por Portugal no final do Verão e ninguém deu por ele, tanto que até já foi editado em DVD. 
Foi a vitória da simplicidade sobre glamour, do pobre ao rico, do David contra o Golias. Aliás, ver um filme como "Avatar" receber apenas prémios nas categorias técnicas "cheira" a derrota pesada...
Já aqui dei a minha opinião sobre grande parte dos filmes concorrentes, e preferi que tivesse ganho um filme sentido, intenso, real e com um argumento sobre um que assenta toda a sua trave-mestra nos efeitos de imagem e nos CGI. Mas fiquei, mais uma vez, desiludido por ver que a luta se resumiu a dois (quase uma luta de géneros e de fomentadores das historietas tão típicas naquela cidade), enquanto o filme mais brilhante de 2009 assistia à batalha, com vontade de matar mais uns nazis, porque os de "Inglourious Basterds" parece que não foram suficientes. O filme do génio Quentin Tarantino passou mais uma vez ao lado da cerimónia. Eu tenho para mim que o criador de Pulp Fiction ou Kill Bill nunca ganhará nada descaradamente enquanto não estiver na fase descendente da carreira. Não sei se o ego dele colide com os da Academia, não sei se o consideram demasiado afastado do mainstream Hollywoodesco, mas sei que aquele gajo merecia, no mínimo, o prémio de melhor Argumento Original. Aliás, acho que já é estranho ele ser nomeado.
Assim, um filme daquela qualidade (para mim, de longe o melhor do ano) ficou restringido a receber um prémio pela soberba e demoníaca interpretação de Christoph Waltz (não lhe dar o prémio seria demasiado escandaloso), ele que foi juntamente com Mo'nique - na sua intensa e fantástica interpretação em "Precious" - o grande actor da noite. Curioso, aliás, verificar que as melhores performances em termos de actores pertenceram, na minha opinião, aos apelidados de "secundários", mas que prenderam os espectadores dos respectivos filmes até ao fim como mais ninguém. Na distribuição das restantes estatuetas a actores, não houve surpresas e Jeff Bridges conquistou o tão almejado prémio. A primeira interpretação marcante dele foi em "The Big Lebowski", dos imrãos Coen, e mesmo sem ter visto "Crazy Heart", arrisco-me a dizer que se estiver ao nível da do filme de 98, então mereceu inteiramente! Sandra Bullock conseguiu receber menos de 48 horas os prémios antítese um do outro: o de pior actriz em "The Proposal" (nos Razzies) e o de melhor actriz em "The Blind Side" (nos Oscars). Coisa nunca dantes vista, mas que tendo em conta o seu desportivismo e sentido de humor, foi a melhor coisa que lhe podia ter acontecido.
Por fim, gostei de ver "Up" ganhar a melhor animação e a melhor banda sonora (que é de facto linda!), não gostei de ver "Up In The Air" e "District 9" sem nenhum Oscar e gostei de ver o Ben Stiller a falar Na'vi. 
Foi sem dúvida dos momentos mais divertidos da noite!
Uma edição dos Oscars que não vai deixar muitas saudades, tirando o momento histórico de ver a primeira mulher a vencer na categoria de Realização.
Aqui fica a lista de todos os vencedores:
Melhor Filme: "The Hurt Locker"
Melhor Actor: Jeff Bridges, "Crazy Heart"
Melhor Actriz: Sandra Bullock, "The Blind Side"
Melhor Realizador: Kathryn Bigelow, "The Hurt Locker"
Melhor Filme Estrangeiro: "El Secreto de Sus Ojos", Argentina
Actor Secundário: Christoph Waltz, "Inglourious Basterds"
Actriz Secundária: Mo'Nique, "Precious"
Argumento Original: Mark Boal, "The Hurt Locker"
Argumento Adaptado: Geoffrey Fletcher, "Precious"
Filme de Animação: "Up", Pete Docter
Direcção Artística: "Avatar"
Melhor Guarda-Roupa: "The Young Victoria"
Melhor Maquilhagem: "Star Trek"
Melhor Cinematografia: "Avatar"
Melhor Documentário: "The Cove"
Efeitos Visuais: "Avatar"
Edição de Som: "The Hurt Locker"
Mistura de Som: "The Hurt Locker"
Edição de Filme: "The Hurt Locker"
Banda-sonora Original: "Up"
Canção Original: The Weary Kind, "Crazy Heart"
Em resumo:
Vencedor da noite: "The Hurt Locker"
Derrotado(s) da noite: "Avatar" e "Up In The Air"
Injustiçado da noite: Quentin Tarantino (o do costume)

Até para o ano!

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