29 março 2010

HOT CHIP - "One Life Stand"

Não conhecia os Hot Chip até 2008. Fiquei a conhecê-los devido a algumas remisturas de uns temas muito bons desse ano e, a partir daí, parti à descoberta do "Made In The Dark", um álbum bom, mas que não me encheu as medidas por completo.

One Life Stand" apresentava como uma excelente oportunidade para banda londrino me convencer. E não é que conseguiram?
Este álbum começa de forma absolutamente poderosa, com uma "Thieves in the Night" sedutora, hipnotizante e cheia de força. A toada mantém-se nas músicas seguintes passando por "I Feel Better" ou "One Life Stand", até que em "Brothers" nos chegam uns Hot Chip menos festivaleiros numa das melhores faixas do álbum.
Depois, perde-se um pouco da intensidade (e qualidade) inicial, recuperada a partir de "We Have Love", e rejuvenescida em "Keep Quiet", uma música que só ganha por ser mais negra e sombria. A música de despedida "Take It In" mantém a bitola alegre e electrónica de grande parte do álbum, fazendo deste um dos álbum interessantes deste ano, e que é o melhor que eu conheço deles, mesmo tendo em conta que a pujança registada no início de "One Life Stand" se vai desvanecendo.



7/10

Sherlock Holmes

Nunca li nada do Sir Arthur Conan Doyle, portanto não sou nem um conhecedor nem um fã (por arrasto) dos livros "Sherlock Holmes", apesar de saber que é uma falha literária minha.
A chegada de "Sherlock Holmes" ao cinema pela mão de Guy Riychie fez-me despertar alguma vontade de ver o filme. Gosteo do trailer, gostei de vários filmes do realizador inglês, e a perspectiva dada ao detectiva parecia-me ser bastante interessante.
Portanto, "toca a ver o filme"!
Desde logo, a abordagem feita ao filme e às suas personagens parece-me ser algo distinta da da literatura. 
Temos uma dupla Holmes-Watson com dotes de artes marciais, recheada de humor e sarcasmo - esta última parte sendo talvez a que mais me agrada no filme. Todo o filme assenta num Sherlock Holmes alienado, sozinho (o amigo de sempre arranjou uma companhia feminina), até frustrado (pela falta de casos para desvendar). E acaba por ser uma perspectiva bastante interessante, principalmente na sua relação com o amigo médico.
Aliás, creio que a mais-valia do filme deve-se na sua essência ao desempenho dos dois actores principais - Robert Downey Jr. e Jude Law -, que demonstram uma química bastante interessante. Os "jogos" provocados pelo detective ao longo do filme são de facto os momentos altos do mesmo.
A fotografia é soberba, a banda sonora também, e a história também é aceitável, desenrolando-se à volta de um mistério sobre Magia Negra.
No fundo, este acaba por ser um filme de entretenimento e de acção, que desagradará a alguns fãs mais acérrimos do universo de Holmes, mas eu até achei piada a toda a vertente alternativa. Pelo menos, fica-se a conhecer um outro lado, uma outra perspectiva.

6/10

26 março 2010

FOUR TET - "There Is Love In You"

Começo já pelo fim.
Four Tet é, até agora, uma das minhas grandes referências deste ano de 2010.
É certo que ainda vêm aí coisas das quais espero muito neste ano, mas Kieran Hebden (o verdadeiro nome deste inglês que formou este "alter-ego") ganhou um lugarzinho especial no meu coração.
"There Is Love In You", particularmente a primeira faixa "Angel Echoes", foi o meu primeiro contacto com Four Tet e logo ali ficou criada uma ligação, que se estendeu para "Love Cry", uma epopeia de 9 minutos que a transforma numa das minhas preferidas do ano. A música tem uma força notável. Começa algo tímida, mas o ritmo acaba por ser impor, coadjuvado por uma voz repetitiva para absolutamente viciante. Os elementos acrescentados ao longo dos 9 minutos não deixam nunca a música cair na monotonia.
"Circling" é hipnotismo em forma de sintetizadores (ou lá o que aquilo é... Só sei é que é bom com'ó raio!), "Sing" é coisa para nos pôr a mexer, "This Unfolds" é chill-out para nos fazer descansar um pouco e "Plastic People" tem lá para o meio uma espécie de caixas de música que fazem maravilhas aos ouvidos.
Portanto, e voltando ao início, está aqui um álbum que merece a devida atenção, pela qualidade e som de níveis muito elevados.

8/10

22 março 2010

Remember Me

Sábado à noite foi dia de acompanhar a namorada a ver um filme que assenta 3/4 do seu sucesso (se não for mais) no facto de ter como actor principal Robert Pattinson, o vampiro da saga "Twilight".
Confesso que fui sem expectativas nenhumas para a sala de cinema, que estava recheada de casalinhos e grupinhos de "pitas", por razões óbvias.
O filme acabou por ser uma surpresa para mim. 
Por não ser uma comédia romântica, como se anuncia - pelo menos não é das típicas. Por ter muito mais drama do que aquilo que seria previsível. Por ser uma história banal, mas que consegue ser menos oca do que muito do que se vê por aí em filmes do género.
"Remember Me" retrata a história de um jovem casal com histórias de vida algo semelhantes devido à morte de familiares directos muito importantes e influentes na sua vida, que acabam por fugir à norma dos habituais jovens só preocupados com bebedeiras e festas. Os dramas familiares de cada um vão cruzando, vão-se envolvendo e a história vai-se desenrolando a bom ritmo.
Os actores do filme não são soberbos, mas são conhecidos e competentes, o que também ajuda ao sucesso do filme. a história tem alguns pontos dispensáveis, mas no geral é bem agradável e surpreendente.
A parte final considero que seria dispensável. Acaba por tirar um pouco da piada ao filme.
Um filme engraçado.

6/10

20 março 2010

Capitães da Areia

"Capitães da Areia" é um dos livros mais vendidos da história da literatura brasileira, escrito por Jorge Amado e que tem por base a história verídica de uns miúdos sem-abrigo de Salvador da Baía que faziam da vida criminosa o seu dia-a-dia.
"Capitães da Areia" não é mais do que o relato da vida dos Capitães da Areia, das aventuras e desventuras do núcleo duro do grupo, dos amores, das amizades, dos esquemas, das burlas, dos crimes.
É um retrato algo crú da sociedade brasileira dos tempos da ditadura, que nada fazia para além de discriminar estas crianças (digamos que algumas vezes com razão), mas este livro dá-nos a possibilidade de conhecer o outro lado. O lado dos meninos que foram mal-tratados, abusados, despejados na rua, levando a que desenvolvessem pela sociedade o mais puro sentimento de ódio e raiva.
"Capitães da Areia" não deixa de ser um relato de amizade, de camaradagem, de valentia e, acima de tudo, de esperança. Um livro que nos é oferecido por um excelente contador de histórias, com uma dinâmica muito boa e repleta de alegria, tristeza, morte, vida, amor, vingança, amizade.
Um livro que não nos deixa indiferente e que nos faz, por diversas vezes, colocar no lugar daqueles criminosos (reais) e tentar compreender o seu ponto de vista.

8/10

19 março 2010

Beach House no Centro Cultural Vila Flor (Guimarães)

Dia dezoito de março do ano da graça de dois mil e dez.
Vinte e duas horas.
O cenário simples mas bastante original está pronto, o ambiente intimista está prestes a ser conseguido.
Victoria Legrand e Alex Scally, acompanhados por um músico convidado a tocar instrumentos de percussão, sobem ao palco do belo auditório principal do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.
Os Beach House estão prontos para enfeitiçar as pessoas presentes no auditório bem composto.
A manobra de mágica começa com "Walk In The Park", umas das músicas mais aclamadas do duo, e segue com "Lover Of Mine" e "Gila". Mas, curiosamente, achei que a banda (e particularmente a vocalista Victoria) não começou com a energia toda. Essa apareceu para ficar a partir de "Norway" - umas das mais aplaudidas da noite - e da belíssima "Silver Soul", e as coisas começaram realmente a aquecer, a ficar mais aconchegantes e mais vivas, muito à custa da fantástica voz desta francesa com formação clássica. É um encanto ouvi-la. Quase que apetece saltar da confortável cadeira e começar a aplaudi-la desenfreadamente assim do nada (mas parecia mal ter tal atitude, perante um público tão atento e compenetrado).
A voz da Victoria aquece-nos o coração, as melodias do Alex embalam-nos e as batidas do baterista (que me perdoe, mas não sei o nome do indivíduo, nem eles o anunciaram) ritmam-nos. A simbiose está conseguida, e estende-se na perfeição ao longo de cerca de uma hora e dez de concerto.
As passagens por álbuns anteriores não foi muito significativa, tirando "Gila", "Heart Of Chambers" e "Astronaut" - já no encore, e quase que a pedido de um fã. Aliás, se a memória não me falha, não houve qualquer recuo às origens do primeiro álbum, e isso explica em muito a ascensão a pulso desta banda de Baltimore, que foi sendo cada vez mais conhecida (ou menos desconhecida, depende do ponto de vista) com a passagem dos anos, e que acaba por não necessitar de recorrer às músicas iniciais para fazer um reportório bem competente, diversificado e ao mesmo tempo coerente.
E no fundo é assim que se pode resumir o concerto dos Beach House ontem à noite. Não houve espaço a grandes improvisações - a música que fazem também não pede isso -, mas sim ao fluir calmo das músicas mais marcantes da banda, num ambiente mágico que acabou por seduzir fãs e menos fãs (que também por lá se encontravam).
Para os últimos momentos, os Beach House brindaram-nos com duas das mais belas músicas que eles têm: a fechar a primeira parte do concerto, "Take Care", e a fechar o encore, a música que eu pessoalmente mais aguardava poder ouvir, e que por momentos me passou pela cabeça não poder fazê-lo. Falo de "10 Mile Stereo".
A fechar a descrição do concerto, deixo parte de "Better Times", em que penso que se consegue transmitir melhor do que muitas palavras o ambiente criado pelo trio e vivido naquela sala.
Findo o concerto, houve ainda direito a sessão de autógrafos e fotografias com o duo, que - pareceu-me - já estava meio "tocado" pela bela mini portuguesa. Deu para descontrair um bocadinho com malta sem vedetismos e sem manias de estrelas. A Victoria ainda me pôs a mãozinha no ombro e chamou-me "filho", o que me parece ser bem elogioso.
Aqui fica a foto para a posteridade:

18 março 2010

JewelPuzzleólicos Anónimos

Depois de muita ponderação, o inevitável aconteceu.
Há gente que precisa de ajuda, e o primeiro passo é mesmo a integração num grupo repleto de pessoas com as mesmas necessidades e dificuldades.
Só assim poderemos fazer deste mundo um lugar melhor!

O meu cérebro acabou de fritar

E tudo graças ao fantástico, infame e viciante jogo "Jewel Puzzle" do Facebook.
Ainda vou processar aquela comunidade por me deixar a ver tudo emparelhado, às cores e em forma de diamante.
Olho para o meu ambiente de trabalho e penso em emparelhar pastas com pastas, vídeos com vídeos, cores com cores.
Vou ao cinema e na minha mente só vejo cartazes claros a deslocarem-se para junto dos cartazes claros, e os escuros a moverem-se para junto dos escuros.
Até nos parques de estacionamento só me apetece desfazer os carros que não estão alinhados por cor! É uma tristeza os condutores não terem isso em atenção, mas pronto...
Não era tudo mais fácil se houvesse um pouco de organização?!?!
AAAAAAHHHHHHHHHHH!!!!!

Agora vou ver se me interno num hospital psiquiátrico. 
Porque diz que num manicómio todos andam de branco, o que ia facilitar em muito a minha vida.

17 março 2010

OK, não é novidade mas...

É português e está muito bom!

(isto surge depois de aparecerem no Youtube várias iniciativas do género, uma das quais eu coloquei neste blog, com a desprezível "música da selecção")

15 março 2010

Notícia triste: o Mariano lesionou-se e pára 6 meses...

E agora o FCP já não vai conseguir despachá-lo no mercado de Verão e vamos continuar a levar com ele...
Notícia muito triste...

SPOON - "Transference"

Os Spoon são uma das bandas mais respeitadas do movimento indie actual, não só por serem dos mais antigos, mas também por manterem uma coerência e consistência assinalável.
2010 é o ano do regresso aos originais, depois de um "Ga Ga Ga Ga Ga" que me caiu no goto e que me abriu caminho a conhecer mais sobre esta banda.
Os Spoon não têm que provar nada a ninguém, têm um estatuto e parecem divertir-se a fazerem música. "Transference" é isso mesmo. Um disco divertido para quem o fez e para quem o ouve, mas que acaba por não trazer nada de muito inovador à discografia da banda americana. As canções apresentam uma naturalidade notável, mas nunca (ou quase nunca) surpreendem, pelo menos a mim não, pelo menos da forma que o álbum anterior fez. 
No entanto, é um disco bem homogéneo, que mais parece uma jam session, onde tudo flui. "Is Love Forever?" tem guitarradas à maneira, "The Mistery Zone" mais parece uma conversa de café (no bom sentido), "Trouble Comes Running" remete-me para o álbum de 2007 e acaba por ser a música que mais me agrada e o single "Got Nuffin" é uma boa malha rock.
"Transference" não é um trabalho deslumbrante, mas ouve-se bastante bem. De certeza que os fãs não ficarão desiludidos com aquilo que foi feito, e num concerto ao vivo não se sentirão diferenças com o que foi feito anteriormente.

7/10

Shutter Island

Este era um dos filmes deste início de ano que mais expectativas me gerava. Sou um fã do Martin Scorsese e gosto de todos os seus filmes (os que vi) e aprecio bastante as qualidades de representação do seu fiel acompanhante, Leonardo DiCaprio (nunca o vi fazer um papel mau).
Outro dos motivos que me provocava alguma curiosidade era a história e o género do filme, um pouco distante daquilo a que estamos habituados no realizador.
Sendo assim, Scorsese decidiu brindar-nos com um thriller psicológico, um filme repleto de suspense e momentos intensos.
"Shutter Island" passa-se na década de 50 e é sobre a investigação por parte de um Marshall ex-militar da II Guerra Mundial do desaparecimento de uma doente psiquiátrica do mais perigoso hospital/prisão psiquiátrico dos EUA, situado numa ilha completamente isolada e inacessível e da qual é impossível escapar. Logo aqui, o caso ganha contornos estranhos, não só pelas circunstâncias do desaparecimento mas também pela atitude das pessoas que lá trabalham.
Durante a primeira parte do filme, Scorsese consegue colocar de forma perfeita todas as cartas do baralho em cima da mesa. Faz-nos estar bem atentos a cada uma das personagens, a tentar descobrir os seus pontos fracos em busca da resolução do mistério. Só por aqui se vê a mestria do realizador, que nos deixa de facto com dúvidas em relação a tudo e todos. Depois ao longo do filme, mais revelações vão sendo feitas e as peças do puzzle começam a ligar umas com as outras, encadeando o filme e prendendo-nos do primeiro ao último minuto, porque não queremos - nem podemos - perder um único pormenor da história. É um filme que nos deixa colado ao ecrã e que nos faz ir pensando. Ou seja, o filme controla-nos a nós e nós não conseguimos controlar o filme. A cena dos fósforos é particularmente intensa e deixou-me com os nervos em franja.
O resto é classe de realização e de interpretação. A carga psicológica dada ao filme é poderosa e o ambiente circundante avassalador. É quase um filme de terror série B, tal a forma como é abordado, mas consegue também distanciar-se (ou não aproximar-se, depende do objectivo inicial) desse género de uma forma bastante original. 
Os planos, a fotografia e as personagens fazem o resto. DiCaprio está magistral, como sempre. Aliás, não lhe conheço nenhum papel abaixo do "muito bom" (posso estar a ser pouco preciso, mas essa é a opinião com que fico depois de ver vários filmes em que ele participa). Ben Kinglsey consegue transmitir precisamente aquilo que lhe é pedido: mistério, segurança, certezas que nos deixam desconfiados. E até Mark Ruffallo, apesar de não ser um actor que aprecie muito, tem um papel bastante interessante e enigmático.
O filme segue o rumo que os seus autores decidiram seguir (e muito bem!) e a parte final é absolutamente soberba. Não alteraria nada no filme.
"Shutter Island" é enigmático quando tem que ser, é stressante quando tem que ser, é comovente quando tem que ser, é assustador quando tem que ser. Tudo na dose certa e no momento correcto.
"Shutter Island" é uma lição de borla a todos aqueles que querem (e tentam) fazer filmes de suspense ou thrillers. E há que aproveitar, que o mestre Scorsese não vai estar disponível a vida toda e provavelmente não voltará ao género. E ainda bem, que assim fica bem recordado.

9/10

Whatever Works

O mais recente filme do Woody Allen marca o regresso do realizador à "sua" cidade, Nova-Iorque, numa comédia que ganha contornos quase épicos com a interpretação soberba de um homem de meia-idade do mais depressivo, jocoso e negativista que existe por parte do grande Larry David.
"My story is, whatever works as long as you don't hurt anybody. Any way you can filtch a little joy in this cruel and pointless life, that's my story."
Esta frase quase que consegue descrever o filme. 
A história não é mais do que uma divagação sobre a morte, sobre o sentido da vida, das relações humanas, da vivência terrena, vista por um gajo que já tentou o suicídio e que, por azar, falhou a morte.
Consegue ver negatividade em tudo o que de bom lhe acontece na vida e é um derrotado por natureza. Essa natureza leva-o a desenvolver o mais mordaz e directo sentido de humor que já vi num filme, o que me levou a adorar cada bocadinho em que o Boris entrava. Aliás, Woody Allen prova com este filme ser um excelente argumentista, já que há falas absolutamente lindas. E tudo com uma história central do mais trivial que possa existir. Aqui, também entra a genialidade de Larry David na interpretação, coadjuvado essencialmente por pacóvios (ou "cretins") - gente que parecia atrair até ele, só para os poder criticar e maldizer.
"Whatever Works" é uma história que tem por base um amor quase impossível - ou irreal - entre uma jovem campónia burra e um velho rabugento génio da Física. Logo nesta relação, há material de sobra para explorar, mas o filme não morre aqui, e as personagens que vão sendo adicionadas trazem cada uma delas a sua peculiaridade, a sua excentricidade. São pessoas comuns, pessoas reais, levadas ao extremo e aproveitadas ao máximo por Woody Allen. Todos temos um pouco de cada um deles, todos nos identificamos um pouco com cada um deles, mas ao mesmo tempo todos nos queremos afastar deles.
Confesso que foi das comédias que mais gosto me deu ver, pelo tipo de humor e pela crueldade e natureza da personagem principal, que é absolutamente deliciosa (não me canso de repetir). Woody Allen demonstra aqui que está bem vivo e cheio de imaginação. E ainda bem, porque gente desta faz falta nas nossas vidas, nem que apareçam simplesmente uma vez por ano, como é apanágio do americano músico/realizador/actor/comediante/escritor/argumentista.
Para o final, deixo mais uma das fantásticas frases do filme, e das que mais "bateu", mesmo a terminar o filme - em beleza, diga-se de passagem!
"That's why I can't say enough times, whatever love you can get and give, whatever happiness you can filch or provide, every temporary measure of grace, whatever works."
Este é um filme que não pode passar despercebido aos amantes do humor. Muito, muito bom!

9/10

13 março 2010

BEACH HOUSE - "Teen Dream"

Os Beach House são um duo de Baltimore (terra dos criativos e experimentais Animal Collective), formado há meia dúzia de anos e que lançam agora o terceiro álbum, de seu nome "Teen Dream".
Poder-se-á dizer que os Beach House fogem um pouco à rotina das bandas emergentes. Normalmente, surgem como uma bomba no álbum de estreia, e depois começam a espernear para não perderem qualidade nos trabalhos seguintes. Os Beach House, qual antítese do modelo pop, decidem brindar-nos de cada vez que lançam um álbum com algo que não esperávamos, depois de já terem feito trabalhos soberbos.
Este "Teen Dream" é basicamente isso. Um álbum melhor que os anteriores, com um ambiente cada vez mais bem definido e com melodias que se conseguem ouvir até ao infinito. Porque ouvir Beach House é fechar os olhos e esperar que nos tele-transportem para um lugar mais leve, recheado de objectos brilhantes, suaves e fofinhos.
O single de apresentação, "Norway", consegue definir bastante bem aquilo que podemos esperar de "Teen Dream", e quando dermos conta já não fazemos mais nada a não ser cantarolar o refrão. Mas o álbum não se resume a "Norway", nem de perto nem de longe. Portanto, há ainda que apreciar "Silver Soul", isto depois dos hipnotizantes primeiros acordes da primeira faixa do CD, em "Zebra". A viagem pelo mundo leve prolonga-se em "Used To Be", sem dúvida uma das melhores canções do álbum - então quando se chega a metade da música e a doce voz da Victoria Legrand se junta ao piano, prolongando-se até ao final, ui ui...
A beleza musical das composições vai-se mantendo num nível muito homogéneo e acima da média, até que nos chega "10 Mile Stereo", a música mais ritmada, a música mais "ambience" e a música mais bela! Remete-nos para o universo dos Sigur Rós, sem nunca deixar de ser Beach House. Um monumento! "Take Care" anuncia uma despedida (do álbum), mas não podiam ter escolhido melhor música para finalizar aquele que é para já, um dos álbuns do ano.
E daqui a menos de uma semana, lá estarei eu de olhos fechados a imaginar o meu próprio mundo, à custa dos sons hipnotizantes, calmos e relaxados dos Beach House. Vai ser bonito.

9/10

VAMPIRE WEEKEND - "Contra"

Há dois anos, apareceram vindos de Nova Iorque uns rapazitos que surpreenderam o mundo da música com as suas batidas afro-caribenhas misturadas com muito ritmo e guitarradas a condizer. Foram considerados a revelação do ano e autores de um dos melhores álbuns de 2008 (inclusive por mim).
2010 marca o ano do regresso dos Vampire Weekend.
E é um regresso bem amadurecido.
"Contra" não deixa, em momento algum, de ser claramente Vampire Weekend, mas os pontos de ligação com o primeiro álbum também não são muitos. Ou seja, os americanos não se deixaram dormir à sombra da bananeira (palavra apropriada, tendo em conta os ritmos africanos?) e o resultado é muito positivo. Nota-se acima de tudo evolução.
"Horchata", a faixa de abertura do disco, é para ouvir debaixo de uma palmeira com um batido de coco. Seguem-se "White Sky" - onde se consegue fazer um refrão "catchy" apenas com uma sílaba (típico neles) -, "Holiday" - numa aproximação mais visível ao álbum homónimo (e isso é necessariamente bom!) - e "California English" - uma das músicas em que a letra e os trocadilhos se tornam mais visíveis e complicados, bem acompanhados pela percussão. "Taxi Cab" é certinha, e "Run" desata numa loucura electrónica bem agradável a partir da segunda metade da faixa.
Com "Cousins", o ska-punk mais viciante que já vivenciei, termina o pop dos 3 minutos, por assim dizer, e chegam-nos uns Vampire Weekend diferentes, uns Vampire Weekend  que se deixam envolver pelo ambiente dos sons criados e que o aproveitam. O resultado são duas das melhores músicas do álbum. "Giving Up The Gun" e "Diplomat's Son" seguem uma toada mais calma, mais controlada, mas com qualidade acima da média. 
"Contra" é um álbum cheio de (boas) influências, mas é também um álbum que começa a definir uma banda, banda essa que pode vir a influenciar muita da música que se pode vir a fazer nos anos vindouros. Os Vampire Weekend tinham todas as atenções e os críticos todos à perna caso fracassassem após o primeiro álbum. Mas pode dizer-se com grande grau de segurança, para azar de alguns e para sorte de muitos mais, que o desafio foi amplamente superado.
 
9/10

11 março 2010

Alice in Wonderland

"Alice in Wonderland" era sem dúvida um dos filmes mais aguardados dos últimos tempos. Realizado por um dos mais excêntricos e adorados cineastas dos nossos tempos, com actores de primeira linha e com a história famosa de Carroll que todos adoram.
Adianto já que "Alice" deixou de ser propriamente um filme de maravilhas, mas antes de pesadelos, de monstros, de terrores. Mas sem nunca deixar de atingir o seu real objectivo.
A história de "Alice" passa-se 13 anos depois da primeira visita da pequena ao "País das Maravilhas". O problema é que deixou de ser "Wonderland" e passou a ser "Underland". Terras sem cor, pálidas e escuras a contrastar com a alegria e a cor dos seus habitantes. E para isso estava lá Tim Burton e as suas personagens desproporcionadas, pálidas e completamente surreais, formando assim a conjugação ideal para miúdos e graúdos, cada um ao seu jeito, apreciarem o filme na máxima plenitude. 
Com este filme, o realizador americano consegue emprestar a todas as personagens um quê de divertido, sem nunca lhes tirar o ar sinistro. Assim, "Alice no País das Maravilhas" não deixou de ser um filme "burtoniano" nem deixou de ser um filme infantil. 
Confesso que sou um fã (dos grandes) de Tim Burton. Porque gosta de brincar com a imaginação - com a dele e com a nossa também. Portanto, os seus projectos são quase todos a apelar ao fantástico, à fantasia (coisas diferentes), ao grotesco. Este não fugiu à regra, e ver as personagens que todos nós imaginámos de uma forma há algumas décadas ganharem contornos completamente distintos é das coisas mais divertidas do Universo Burton. Ver um Chapeleiro lunático, uma Rainha Vermelha desproporcional e agressiva ou uma Rainha Branca do mais pálido e sensível que existe é algo que só se pode vivenciar na sua plenitude numa sala de cinema.
Depois, e em termos mais técnicos, tudo bate certo no filme. Fotografia espectacular, composição das personagens surrealmente divertida. Acho que não se podia pedir mais, a não ser uma duração curta do filme, que foi conseguida (1h40 de filme parece-me apropriado ao tipo de filme e à história). 
Tim Burton conseguiu reinventar um clássico infantil e fazer dele um clássico sénior também. Está de parabéns!


8/10

Eles estão a chegar!

Isto é aquilo a que se pode chamar verdadeiro marketing

Mesmo quem não gosta da música, é praticamente obrigado a ver!

09 março 2010

Noite de terror

O Jesualdo hoje fez-me lembrar o Jack Nicholson em "The Shining"...

08 março 2010

Noite dos Oscars

Já começa a ser um ritual.
Na noite dos Oscars, lá vou eu para o sofá, agarro num cobertor para me aquecer as pernas e arranjo coisas de comer para o estômago não sentir também a diferença de temperatura.
Ontem não foi excepção e à uma da manhã lá estava eu com os olhos sintonizados na TVI (parte chata da coisa).
Da famosa "red carpet", não falo muito e deixo o assunto para especialistas (tipo revista Caras ou Nova Gente), mas gostei particularmente de ver o George Clooney a quebrar o protocolo e a andar que nem um maluco a cumprimentar os curiosos atrás das grades que por lá andavam.
Falando da cerimónia em si, não prometia grande coisa. 
Não havia filmes soberbos este ano, tirando uma ou outra excepção (mas já lá vamos), e a luta marido vs. mulher parecia ter ganho contornos épicos. Aquilo que mais me alegrava era poder ver um dos mais talentosos actores de comédia do momento, Alec Baldwin, a apresentar em conjunto com o veterano Steve Martin. Mas, e começo já por concluir, a parelha não foi espectacular. Tirando alguns momentos bem tirados, não houve grande inspiração - ou seria tempo, já que decidiram cortar à duração do programa para chamar mais audiência? - e acabei por sair um pouco desiludido com a apresentação. Até porque a organização prometia a primeira hora de programa mais dinâmica e fantástica de sempre, e eu só me lembrava do Hugh Jackman no ano passado (que já não foi nada de especial, veja-se lá). A rapidez com que despacham agora os vencedores é também constrangedora... Afinal, os heróis da festa são eles, e quando apenas têm 45 segundos para falar...
Falando agora da distribuição das estatuetas douradas, "The Hurt Locker" limpou aquilo (quase) tudo. Até algumas das categorias técnicas que seria de esperar que fossem para "Avatar" acabaram por ir para o filme de Kathryn Bigelow sobre a guerra do Iraque. Por falar na realizadora, esta edição dos Oscars acabou por ser histórica, já que foi a primeira vez que uma mulher conquistou a estatueta mais querida, num "mundo" habitualmente dominado por homens. Espero sinceramente que as coisas vão mudando, porque fazem falta outras visões na sétima arte.
"The Hurt Locker", um dos mais improváveis vencedores de sempre, conseguiu a proeza de ser um filme independente, de ter um orçamento reduzido, de ter andado em festivais europeus há 2 anos e de apenas ter entrado no mercado americano no ano passado (facto que lhe permitiu concorrer) e de vencer o mais caro e programado filme de toda a história cinematográfica. Aliás, passou por Portugal no final do Verão e ninguém deu por ele, tanto que até já foi editado em DVD. 
Foi a vitória da simplicidade sobre glamour, do pobre ao rico, do David contra o Golias. Aliás, ver um filme como "Avatar" receber apenas prémios nas categorias técnicas "cheira" a derrota pesada...
Já aqui dei a minha opinião sobre grande parte dos filmes concorrentes, e preferi que tivesse ganho um filme sentido, intenso, real e com um argumento sobre um que assenta toda a sua trave-mestra nos efeitos de imagem e nos CGI. Mas fiquei, mais uma vez, desiludido por ver que a luta se resumiu a dois (quase uma luta de géneros e de fomentadores das historietas tão típicas naquela cidade), enquanto o filme mais brilhante de 2009 assistia à batalha, com vontade de matar mais uns nazis, porque os de "Inglourious Basterds" parece que não foram suficientes. O filme do génio Quentin Tarantino passou mais uma vez ao lado da cerimónia. Eu tenho para mim que o criador de Pulp Fiction ou Kill Bill nunca ganhará nada descaradamente enquanto não estiver na fase descendente da carreira. Não sei se o ego dele colide com os da Academia, não sei se o consideram demasiado afastado do mainstream Hollywoodesco, mas sei que aquele gajo merecia, no mínimo, o prémio de melhor Argumento Original. Aliás, acho que já é estranho ele ser nomeado.
Assim, um filme daquela qualidade (para mim, de longe o melhor do ano) ficou restringido a receber um prémio pela soberba e demoníaca interpretação de Christoph Waltz (não lhe dar o prémio seria demasiado escandaloso), ele que foi juntamente com Mo'nique - na sua intensa e fantástica interpretação em "Precious" - o grande actor da noite. Curioso, aliás, verificar que as melhores performances em termos de actores pertenceram, na minha opinião, aos apelidados de "secundários", mas que prenderam os espectadores dos respectivos filmes até ao fim como mais ninguém. Na distribuição das restantes estatuetas a actores, não houve surpresas e Jeff Bridges conquistou o tão almejado prémio. A primeira interpretação marcante dele foi em "The Big Lebowski", dos imrãos Coen, e mesmo sem ter visto "Crazy Heart", arrisco-me a dizer que se estiver ao nível da do filme de 98, então mereceu inteiramente! Sandra Bullock conseguiu receber menos de 48 horas os prémios antítese um do outro: o de pior actriz em "The Proposal" (nos Razzies) e o de melhor actriz em "The Blind Side" (nos Oscars). Coisa nunca dantes vista, mas que tendo em conta o seu desportivismo e sentido de humor, foi a melhor coisa que lhe podia ter acontecido.
Por fim, gostei de ver "Up" ganhar a melhor animação e a melhor banda sonora (que é de facto linda!), não gostei de ver "Up In The Air" e "District 9" sem nenhum Oscar e gostei de ver o Ben Stiller a falar Na'vi. 
Foi sem dúvida dos momentos mais divertidos da noite!
Uma edição dos Oscars que não vai deixar muitas saudades, tirando o momento histórico de ver a primeira mulher a vencer na categoria de Realização.
Aqui fica a lista de todos os vencedores:
Melhor Filme: "The Hurt Locker"
Melhor Actor: Jeff Bridges, "Crazy Heart"
Melhor Actriz: Sandra Bullock, "The Blind Side"
Melhor Realizador: Kathryn Bigelow, "The Hurt Locker"
Melhor Filme Estrangeiro: "El Secreto de Sus Ojos", Argentina
Actor Secundário: Christoph Waltz, "Inglourious Basterds"
Actriz Secundária: Mo'Nique, "Precious"
Argumento Original: Mark Boal, "The Hurt Locker"
Argumento Adaptado: Geoffrey Fletcher, "Precious"
Filme de Animação: "Up", Pete Docter
Direcção Artística: "Avatar"
Melhor Guarda-Roupa: "The Young Victoria"
Melhor Maquilhagem: "Star Trek"
Melhor Cinematografia: "Avatar"
Melhor Documentário: "The Cove"
Efeitos Visuais: "Avatar"
Edição de Som: "The Hurt Locker"
Mistura de Som: "The Hurt Locker"
Edição de Filme: "The Hurt Locker"
Banda-sonora Original: "Up"
Canção Original: The Weary Kind, "Crazy Heart"
Em resumo:
Vencedor da noite: "The Hurt Locker"
Derrotado(s) da noite: "Avatar" e "Up In The Air"
Injustiçado da noite: Quentin Tarantino (o do costume)

Até para o ano!

07 março 2010

The Blind Side

A história verídica de um adolescente sem-abrigo acolhido por uma família rica dos EUA e envolvido num ambiente completamente distinto do seu - habituado à violência e droga de um bairro social, passa a frequentar a "alta sociedade" e um colégio privado cristão.
 
"The Blind Side" é uma posição de futebol americano (pelo que percebi do filme). É ocupada por um jogador que deve, acima de tudo, defender o "quarterback" (o gajo que manda a bola para a frente) de qualquer placagem adversária. É aquela posição em que o seu ocupante está sempre lá, aconteça o que acontecer, para proteger a sua equipa. E é também um bom resumo do filme.
"The Blind Side" é uma história de amor, de caridade, de vontade de ajudar o próximo. É um murro no estômago aos estigmas que todos nós criamos sobre determinada classe social ou grupo.
Sandra Bullock faz (e muito bem!) de "tia de Cascais" empertigada com um coração de manteiga, e é coadjuvada por um jovem bruta-montes cheio de razões para ser violento, criminoso e mal-feitor, mas tudo o que consegue ser é a pessoa mais calma e amiga do mundo.
Não sendo um filme de mover montanhas, está aqui uma história bem feita e comovente em alguns pontos, com boas interpretações (o "irmão" mais novo é de ir às lágrimas, tal a "raça" do miúdo) e, como já disse, algumas lições de vida. Para ver e para pensar um pouco (não muito).

7/10

06 março 2010

Up In The Air

Há umas semanas, vi "Up In The Air", mais um dos filmes na corrida aos Oscars e que ainda não comentei por aqui. Tinha uma certa expectativa em relação a este filme, principalmente porque é do Jason Reitman, o realizador de um dos filmes mais bem conseguidos de há 2 anos, o "Juno".
A história do filme é algo básica e simples - mas não simplista -, e assenta na vida de um homem de meia-idade (George Clooney) que tem como função despedir pessoas de diversas empresas espalhadas pelo país e que, por isso mesmo, passa a vida a viajar, desligando-se quase por completo de relações interpessoais e de quaisquer bens que o façam sentir ter uma casa, um ponto onde sempre se pode abrigar.
O filme é por si só uma grande crítica a toda a sociedade actual, cheia de plastificações, cheia de coberturas para as verdadeiras faces dos intervenientes. Temos o "bon-vivant" que apenas vive com uma pequena mala em que carrega tudo o que realmente necessita (aliás, utiliza o exemplo da mala para dar palestras motivacionais) e que não se preocupa nada com relações - sejam elas de que tipo forem -, temos a jovem recém-licenciada cheia de ideias inovadoras mas por dentro não é mais do que insegurança, e temos a versão feminina (ou quase) do primeiro caso descrito. Os contrastes vão sendo evidenciados ao longo do filme, principalmente tendo em conta a restante família da personagem principal, que não é mais do que a antítese da mesma.
"Up In The Air" é um filme - dir-se-á - leve, descontraído, mas que ao mesmo tempo consegue falar com seriedade de alguns dos grandes problemas da sociedade actual, como o desemprego, a solidão, a efemeridade das relações. No fundo é um filme leve, mas que deve ser levado muito a sério.
O fim não é mais do que uma grande lição de vida, um olhar intrínseco para aquilo que a sociedade actual exige de nós e aquilo que nos dá de volta, quando se vê que os grandes objectivos da vida muitas vezes são algo supérfluos. 
Um excelente filme, contado de uma perspectiva bem refrescante e com grandes interpretações dos principais intervenientes - prova disso são as 3 nomeações para os Oscars para os 3 principais actores. 
Resumindo, "Up In The Air" é um filme para ver descontraidamente, sem nunca largar do pensamento a mensagem que o mesmo quer transmitir.

8/10

The Hurt Locker

Este filme andou na rota de festivais europeus em 2008, mas como apenas em 2009 chegou aos EUA está habilitado a ganhar umas estatuetas.
"The Hurt Locker" - em português "Tempos de Guerra" - é um filme sobre a Guerra do Iraque, sem no entanto ser mais um filme de guerra.
E passo a explicar porquê.
Habitualmente, os filmes de guerra regem-se pela máxima "Se tiver menos de 4 explosões e menos de 7 braços e pernas a voar por minuto, não conta!". De notar que também há explosões e tiroteios, mas nada que ultrapasse o limite do razoável.
"The Hurt Locker" faz precisamente o contrário. Faz-nos perceber que a guerra não é tão emocionante e activa como podemos pensar. Faz-nos ver o outro lado da guerra. Faz-nos sentir o lado real da guerra.
Durante as 2 horas de filme, é-nos contada a história de um grupo de três militares da brigada de explosivos, encarregues de desactivar os mais mirabolantes engenhos explosivos e liderados pelo Sargento James, o maior "guru" daquela arte.
Kathryn Bigelow (por curiosidade, é a ex-mulher do famoso James Cameron de "Titanic" e "Avatar") consegue colocar emoção, drama e suspense num filme particularmente "parado", como dirá muita gente. Mas é nesses momentos calmos, e sem pressas nenhumas, que se conseguem captar melhor as emoções dos intervenientes, revelando as suas fraquezas, as suas forças, as suas loucuras, as suas convicções. E esse é o ponto forte do filme. Não tenta fazer as cenas à pressa, dá-nos as situações mais diversificadas de um cenário de guerra, sem nunca perder de vista o lado mais humano dos militares.
Quanto à realização, é feita de um modo algo invulgar, sempre numa perspectiva muito próxima do actor, de tal modo que por vezes parece que estamos a assistir a um documentário, o que torna tudo um pouco mais real.
A fotografia é excelente, o tratamento dos cenários de guerra, quer no deserto quer na cidade de Bagdad são muito bem conseguidos.
Quanto a interpretações, as três personagens principais conseguem interpretar na perfeição três estereótipos de militares. Aquele que não sabe muito bem como lá foi parar, aquele que está ciente do seu papel mas que tem os pés bem assentes na terra, e aquele que é viciado no seu trabalho e na sua função. O último - e como se pode ver pela "tagline" do filme - é o centro de toda a história, e Jeremy Renner consegue interpretar o papel na perfeição.
Tudo o resto, deve ser visto a apreciado, porque está aqui um dos bons filmes do ano, vindo de mais um filme-surpresa, sem aqueles orçamentos bombásticos da indústria de Hollywood, tal como "District 9" por exemplo. Será isto um sinal para a indústria norte-americana?

8/10

05 março 2010

Precious

Ontem foi dia de ver "Precious", mais um dos nomeados para melhor filme, e um dos mais nomeados para a cerimónia que se realiza no Domingo, candidato a 6 estatuetas, quase todos nas principais categorias.
O filme é baseado num livro que foi um grande sucesso em 1996, e retrata a história de uma mãe adolescente de 16 anos - Precious -, obesa, à espera do segundo filho do seu próprio pai e vítima de violência doméstica, quer verbal quer física por parte da mãe. Além disso, Precious é iletrada (praticamente não sabe ler nem escrever) e é uma aluna problemática numa escola de um bairro problemático - Harlem, em Nova Iorque. Depois, a mudança para uma escola especial e diferente ajuda a transformar a vida da jovem e frágil Precious, pois aí arranja amigos e, acima de tudo, consciência de toda a situação que vive.
A história é sem dúvida cruel, dura e muito real(ista).
A violência (verbal e física) não nos é dada de forma gratuita, mas é-nos dada na proporção devida - e durante boa parte do filme.
O filme é-nos apresentado através da visão da jovem adolescente, fazendo-nos sentir as suas angústias, as suas alegrias, os seus dilemas, os seus sonhos.
As temáticas abordadas são o ponto forte do filme. Violência, gravidez na adolescência, incesto, DST, preconceito e pobreza são assuntos recorrentes e são a base do filme, para além da soberba interpretação de Mo'nique - a mãe de Precious -, que nos faz muitas vezes ter medo dela.
É um filme que vale pelo tema e pela sensibilidade com que o assunto nos toca a todos. Não é soberbo, mas é bastante agradável.

7/10

04 março 2010

MASSIVE ATTACK - "Heligoland"

Massive Attack. O regresso mais aguardado do ano. Depois de 7 anos sem editarem nenhum álbum, a banda de Bristol decidiu-se finalmente a lançar mais uma obra para o mercado, depois de já terem estado perto de o fazer há uns anos.
Nunca fui um seguidor fiel da banda, até porque apenas os devo ter conhecido em 2003, por alturas do lançamento do "100th Window" (álbum que adorei, tal como os restantes que vim a descobrir posteriormente). Não sei os nomes das músicas todas, mas reconheço uma enorme qualidade a estes ingleses.
Tendo em conta aquilo que conheço, este "Heligoland" parece-me uma mudança de sonoridade, mas não uma mudança de identidade. Em "Heligoland" temos músicas mais imediatas, menos produzidas, mas igualmente belas. A aura, essa continua intacta.
Assim, partimos para a descoberta do álbum com uma faixa de abertura que nos deixa de imediato com a "pulga atrás da orelha". Vemos logo ali diferenças em "Pray For Rain". As músicas seguintes - "Babel" e "Splitting the Atom" - assentam muita da sua identidade em beats bem marcados, sendo que a primeira tem um baixo a conduzir toda a melodia que sim senhor! A colaboração do já habitué Horace Andy é sentida na segunda música referida, bem como em "Girl I Love You", uma música delirantemente bela e talvez aquela que mais nos faz recordar os Massive Attack de há uma década, juntamente com "Rush Minute" - e que por sinal são das duas que mais aprecio.
De seguida, surge um abaixamento na qualidade do álbum, mas "Paradise Circus" traz de volta as grandes músicas do álbum, e a participação de Damon Albarn em "Saturday Come Slow" dá-nos a música mais distante do restante que se faz nestas 10 faixas.
No cômputo geral, parece um regresso em boa forma de uma das bandas mais influentes da última década e meia, e que acaba por não desiludir, dadas as grandes expectativas que tinha em cima.
Mas não esperem os mesmo Massive Attack dos anos 90, que eles estão diferentes (e ainda bem, é sinal que não ficaram parados no tempo!).

8/10

A Serious Man

"A Serious Man" é o mais recente filme dos irmãos Cohen, nomeado para os Oscars, depois dos dois últimos grandes sucessos "No Country For Old Men" e "Burn After Reading", películas das quais sou fã e que me fizeram investigar melhor a filmografia dos manos.
"A Serious Man" é o mais estranho filme que vi desta dupla.
"A Serious Man" está carregado de humor negro (escuro, escuro, escuro), um humor que chega a incomodar. É uma crítica profunda aos costumes de uma família judaica da segunda metade do século XX. É um filme cheio de mensagens subliminares, que muitas vezes me deixaram à deriva.
Diria que é o filme mais pessoal dos irmãos Cohen. É o filme em que menos se preocuparam com aquilo que estavam a fazer, em que se deixaram levar pela sua (estranha) vontade.
A história relata o quotidiano (e é mesmo isto que o filme pretende ser... O quotidiano banal) de um professor de Física e - em menor escala - do seu filho (um protótipo seu) numa pequena cidade americana. Todo o filme apresenta-nos essencialmente pensamentos, desejos ostracizados pela sua opção religiosa,  tentativas frustradas de resolver os problemas da sua vida, procurando ajuda em "rabis" de todo o género e espécie, sarcasmo em relação a toda a envolvente religiosa que as pessoas aplicam no desenvolvimento da sua vida, hipocrisia e falta de sinceridade/honestidade. E tudo isto acontece porque está rodeado de uma família típica e disfuncional.
A ironia começa logo no título. Fala-nos de um homem sério, mas o filme é tudo menos isso -e pelo menos em parte. Fala-nos de pessoas que tentam impor as suas vontades, tendo por base as suas crenças religiosas e deturpando as realidades dos factos, ajustando-as às suas necessidades e desejos, e de pessoas "inocentes" que se deixam levar por toda essa envolvente. Neste caso, é mesmo a personagem principal - interpretada de forma magnífica por Michael Stuhlbarg -, um homem culto e racional que se deixa engolir por toda a irracionalidade da vida religiosa e que rege todos os seus princípios por ela.
Não é um filme fácil, a comédia não é directa nem nos leva a rir às gargalhadas (se se pode aplicar o termo "comédia inteligente", é neste filme), mas é um ensaio irónico acima de tudo, que critica toda uma comunidade judaica, mas que não deixa de se aplicar aos nossos tempos e a todas as comunidades.
O trailer pode ajudar imenso a perceber algumas das mensagens do filme.
Em resumo, é mesmo um filme estranho, com um final de nos deixar "Então, foi isto?!". Mas o quotidiano é mesmo assim. 
Acho que da próxima vez que vir o filme vou gostar mais.

7/10

03 março 2010

Nine

Rob Marshall seduziu-me com "Chicago".
"Moulin Rouge" agradou-me bastante, apesar de inferior ao já citado - e apesar de ser de outro realizador.
Nunca vi muitos musicais na vida (além destes, só me recordo do tenebroso "Dreamgirls"), mas estes dois até que me deixaram com vontade de ver a próxima película do género de Rob Marshall, cheio de estrelas cintilantes e com um Daniel Day-Lewis que só entra em produções vencedoras.
"Nine" é uma adaptação de um musical da Broadway, misturado com uma adaptação de um filme de Fellini, e a acção passa-se em Itália, tratando a vida de um realizador desinspirado e mulherengo que sente a pressão de ter que apresentar um argumento em pouco mais de uma semana.
O filme centra-se acima de tudo no "drama" da vida de Guido, interpretado por Daniel Day-Lewis, e em todas as suas relações quotidianas com mulheres de todos os quadrantes, desde as musas dos seus filmes (Nicole Kidman), passando pela sua mãe (Sophia Loren), pela sua mulher (Marion Coutillard) ou pela amante (Penelope Cruz) ou ainda por jornalistas (Kate Hudson).
Toda a história se vai baseando nas fantasias de cada uma das personagens, e a forma como o realizador trabalha com a montagem dos diálogos, intercalados com as músicas é notável, imprimindo um bom ritmo ao desenrolar da trama. No entanto, nem sempre as canções são empolgantes (aliás, poucas são...), e é aqui que se começam a cavar as diferenças com "Chicago". O filme não puxa muito por nós, é algo insosso e estava à espera de mais.
Quanto ao elenco de luxo, pouco aparece (ou, quando aparece, não brilha), com excepção de Penelope Cruz e Marion Coutillard, que são de facto a mais-valia do filme. A espanhola tem um papel amalucado, mesmo à sua medida e a fazer relembrar "Volver" ou "Vicky Cristina Barcelona". Uma excelente actriz. 
Ver Daniel Day-Lewis a cantar é... estranho. Mas ele acaba por ter uma interpretação interessante de um italiano de meia-idade.
Resumindo, é um bom filme para passar o tempo, recheado de mulheres bonitas, com uma realização bem interessante. Mas pouco mais do que isso.

6/10

YEASAYER - "Odd Blood"

Os Yeasayer causaram furor em 2007 com o seu álbum de estreia. "All Hour Cymbals" foi uma pedrada no charco do pop, e a banda de Brooklyn conseguiu praticamente unanimidade naquilo que conseguiu produzir. Músicas pop cheias de energia, ritmo peculiar e qualidade indubitável.
A bitola estava elevada para o substituto do aclamado primeiro álbum.
"Odd Blood" foi aguardado com grande expectativa por mim, e o single de apresentação "Ambling Alp" fazia antever uma coisa em grande, muito na onda do álbum de estreia.
Mas o caminho mudou um pouco.
A estrada ficou mais sinuosa - leia-se mais inconsistente e inconstante -, a banda sonora da viagem continuou com grande ritmo, mas menos vibrante. O grande problema é que muitas vezes damos por nós à espera de saltar uma música, para que cheguemos à seguinte, que é melhor. É natural que isso aconteça em qualquer álbum, mas não é desejável que isso aconteça (quase) música sim, música não.
Assim, e indo ao que mais interessa, este "Odd Blood" tem grandes músicas, não haja dúvida, mas também tem outras em que desejamos que acabem o mais depressa possível. Destacando as coisas positivas, a já referida "Ambling Alp" é reconhecível a milhas de distância, "Mondegreen" e as suas palmas ritmadas devem ser um grande momento ao vivo - e também o é em CD. Depois, há ainda "ONE" ou "Rome", músicas bastante competentes, sendo a primeira a fugir para sons synth-pop e a segunda a entrar em altas rotações.
Mas o momento alto do álbum aparece à 4ª música. "I Remember" invadiu-me os poros todos desde a primeira audição, fez-me todos os pelinhos do meu corpo ficarem hirtos, fez-me procurar a letra e o seu significado. E tendo em conta o momento em que me chegou, não me podia dizer muito mais. A voz em falsete de Chris Keating é completamente arrebatadora.
Em conclusão, "Odd Blood" não é perfeito, não chega ao nível de "All Hour Cymbals", mas tem músicas absolutamente deliciosas, que nos fazem acreditar que estes gajos do art-pop nova-iorquino ainda podem fazer boas coisas pela música nos próximos tempos.

7/10

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