20 junho 2010

José Saramago 1922-2010

José Saramago morreu aos 87 anos.
O único falante da língua portuguesa premiado com o Nobel da Literatura.
O mestre da Língua Portuguesa. O génio das narrativas. O malabarista das palavras.
Saramago é o escritor que mais gozo me dá ler. Tem um estilo de escrita muito fluído, muito próximo do pensamento, e aborda as histórias sempre por um lado que aprecio imenso.
Parte o homem, ficam as palavras, as ideias e as convicções. Ficam as obras literárias de superior qualidade.
Saramago sempre foi polémico. Um homem de paixões e ódios, que muitos teimam em continuar a dizer mal, simplesmente porque é comunista e ateu. Nem sequer conseguem dissociar esses seus pensamentos extremistas dos seus eloquentes e envolventes livros. E é isso que me deixa triste. Ver que o grande exportador da Língua Portuguesa além fronteiras continua a ser quase que desprezado em Portugal, e venerado por esse mundo fora. Simplesmente porque não se consegue separar as águas.
Teve atitudes controversas? Defende ideologias com as quais não concordo? Sim! Mas nada disso faz apagar aquilo que realmente me interessa na sua vida. E no fundo aquilo de que todos se lembrarão daqui a 100 anos serão os seus livros. 
Daqui a 100 anos será considerado um marco da Literatura Portuguesa - se é que já não o é -, ao lado de Camões, Pessoa ou Eça. Será lembrado como o primeiro Nobel da Literatura Português, será relembrado pelas aventuras enfabuladas de "Memorial do Convento", pela crueldade humana de "Ensaio Sobre a Cegueira", pela dimensão histórica de "O Ano da Morte de Ricardo Reis", pelas convicções religiosas de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo".
Pouco me importa se viveu em Portugal, em Espanha ou no Pólo Norte. A verdade é que nunca deixou de escrever na língua-mãe, a verdade é que viu os seus livros traduzidos para 46 línguas distintas.
Saramago morreu, mas reservou o seu lugar na eternidade da cultura portuguesa.
Felizmente, deixou uma obra extensa, da qual ainda não li nem metade, o que me deixa bastante contente por ter a oportunidade de continuar sentir os seus escritos.
Obrigado, Saramago, por todas as horas de puro entretenimento que já me proporcionaste e que me vais continuar a proporcionar.

16 junho 2010

THE NATIONAL - "High Violet"

Conheço os The National há apenas três anos. Tomei contacto com eles em 2007, aquando do lançamento do sublime "Boxer", que imediatamente me deixou embasbacado e atordoado com toda aquela perfeição melódica e densidade musical. A partir daí, foi partir em busca de "Alligator", seu sucedâneo de 2005, que, embora sendo mais crú e menos trabalhado, é também uma obra de muito bom gosto, com a qualidade lá nos píncaros. Mas esta banda de Brooklyn constituída por membros de Ohio já cá anda há uma década, sendo que os dois primeiros álbuns foram mais discretos. 
"High Violet" marca o regresso de uma das minha grandes pancas da música actual. Poder-se-á dizer que os The National continuam iguais a si próprios. Matt Berninger, na voz, é o perfeccionista obcecado de sempre; as guitarras, a cargo dos gémeos Dressner, são trabalhadas ao pormenor (mas só passam com a aprovação do "maníaco" Berninger) e os primos Devendorf encarregam-se do baixo e da esplêndida bateria - um cada, obviamente. Como dá para ver, isto é praticamente uma banda familiar, coadjuvada pelo génio do vocalista e autor de quase todas as letras.
Falando agora especificamente deste novo trabalho, "High Violet" apresenta-nos a mistura perfeita entre duas obras-primas. Contém a irreverência e a crueza de "Alligator", sem deixar a limpidez e as melodias perfeccionistas de "Boxer". Ou seja, "High Violet" consegue armazenar nas onze músicas que compõem o álbum o melhor de dois mundos. 
"Terrible Love" a abrir dá-nos energia e distorção q.b., para logo nos servirem "Sorrow" uma das mais belas músicas, depressiva até dizer chega. Aliás, a onda obsessiva e claustrofóbica multiplica-se com tal intensidade em "Afraid of Everyone" que faz com que uma derivações da guitarra de toda a restante melodia se assemelhem a verdadeiros arrepios sentidos, num crescendo que vai envolvendo, envolvendo e envolvendo até terminar num momento ambience arrepiante com uma bateria em grande forma. Por falar em bateria, Bryan Devendorf é capaz de ser um dos melhores e mais inventivos bateristas da actualidade. The National é o que é também muito graças aos ritmos diferentes imprimidos pelo Bryan e dos quais são excelentes exemplos "Everyone's Ghost" e "Bloodbuzz Ohio". Aliás, o single de apresentação é um orgasmo de porco para mim: a aliar à batida absolutamente hipnotizante, surgem no final de cada refrão uns pratos em crescendo que conduzem a um devaneio das guitarras ao qual não consigo ficar indiferente. 
Observando as letras atentamente, observam-se bem os traços da personalidade do autor, parece que ficamos todos a conhecer um pouco desta personagem, que foi pai há relativamente, influência que se nota em diversas canções. Desviar um pouco da nossa atenção para as letras irá deixar-nos maravilhados e seduzidos.
O restante material não referenciado é de qualidade indubitavelmente alta, merecia uma palavrinha, mas tornaria tudo isto mais longo e talvez repetitivo. Assim, e para terminar, "High Violet" é eloquente e cru, claustrofóbico e libertador. "High Violet" catapulta em definitivo os The National para o Olimpo da História da música. Está tudo dito. Resta não perder a oportunidade de apreciar tal obra-prima.

10/10

The Imaginarium of Doctor Parnassus

Tinha uma certa curiosidade em ver este filme. Não só porque representa simbolicamente o último filme do actor Heath Ledger, mas também porque marcava o regresso de Terry Gylliam à realização. O elenco era respeitável. Para além do já referido Joker de “The Dark Knight”, havia um consagrado Cristopher Plummer e participações especiais de Johnny Depp, Collin Farrell e Jude Law, que permitiram a concretização da película depois do trágico incidente.
“The Imaginarium of Doctor Parnassus”, com uma tradução absurda para português (qualquer coisa como “Parnassus, o Homem que tentou enganar o diabo”), fala-nos da luta do bem contra o mal, de apostas e promessas entre Parnassus e o diabo. O essencial do filme gira à volta da possibilidade de Parnassus conseguir, com a mente, criar ambientes, cenários e paisagens de acordo com as pessoas que se deixam controlar pelos pensamentos do mágico.
No entanto, e apesar do conceito parecer apelativo, o filme foi uma desilusão. Achei-o confuso e enfadonho, repetitivo e um pouco longo de mais.
Os cenários, a caracterização e a fotografia são sem dúvida de alta qualidade. Mas penso que poderia ter havido mais imaginação, mais cor. As interpretações são medianas, à excepção do veterano Plummer. Heath Ledger é exuberante, mas não soberbo, e os actores que deram uma perninha no filme também não têm grande tempo de protagonismo, pelo que acabam por passar algo despercebidos.
Resumindo, estava à espera que “The Imaginarium of Doctor Parnassus” fosse arrebatador, apelasse à nossa imaginação, seduzisse com cenários, contasse belas histórias e respirasse aventura por todos os poros. Acabou por falhar em vários desses pontos.

5/10

Moon

“Moon” é um filme de ficção científica ao estilo de “2001, Space Odyssey”, mas sem as ambições deste ao nível da grandiosidade e da revolução que desencadeou na década de 70. 
Como o nome indica, a acção desenrola-se na Lua, num futuro impreciso, em que existem estações e aparelhos de recolha de hélio (do sol), responsável pela alimentação eléctrica de todo o planeta. Numa das quais, encontra-se uma pessoa – Sam Rockwell – que tem um contrato de 3 anos, durante os quais tem que permanecer na estação espacial construída no solo lunar completamente sozinho, tendo apenas a companhia de um computador. Com o passar do tempo, a personagem acaba por vir a descobrir verdades que não queria, e acaba por arranjar “companheiros” na sua luta pela liberdade.
O realizador consegue passar para o ecrã todas as emoções, quase que conseguimos saber o que cada um dos intervenientes pensa.
Os cenários lunares, apesar de eu não ser um especialista, pareceram-me realistas e bem conseguidos. É também curioso ver como os criadores de “Moon” pensam no futuro, na evolução da computação, da mecânica e da robótica. Aliás, este é um dos pontos que mais me entusiasma na altura de ver filmes deste género.
É uma película que nos fala dos problemas éticos da evolução tecnológica, da solidão, das relações interpessoais e da manipulação intelectual levada a cabo para que todos os objectivos corporativos sejam atingidos. Um filme independente (ou quase) que consegue chegar mais longe do que muitos que abordam temáticas semelhantes e que deve ser visto.

7/10

12 junho 2010

O Mundial já começou!

E eu sinto que estou numa enorme colmeia, rodeado por mais de 50 mil abelhas.
Parece-me bem.

10 junho 2010

A Single Man

Será que um filme realizado por um estilista, que aborda a temática que lhe é mais próxima (a homossexualidade) e que tem no elenco um actor essencialmente conhecido pelas comédias-românticas-pipoca pode ser alguma coisa de importante na enorme indústria cinematográfica?
À partida, a resposta óbvia seria não. 
Um realizador (Tom Ford) sem experiência a criar um filme sobre o mundo interior de um homossexual deixa-nos logo de pé atrás. Mas a verdade é que "A Single Man" consegue ser poético sem pretensiosismos, consegue ser complexo com uma história simples, consegue prender-nos à história sem ter, aparentemente, grandes motivos para tal. E aqui o prémio terá que ir obviamente pela abordagem à temática.
"A Single Man" é a história de um professor homossexual de meia idade com todas as suas crises depois de, passados 16 anos de vida em comum, o seu companheiro morrer num acidente de viação. A trama desenrola-se em apenas 24 horas, com alguns flashbacks pelo meio, mas consegue retratar na perfeição todos os dramas internos e externos que um gay tinha que enfrentar na década de 60, onde a homossexualidade ainda era mais ostracizada do que nos dias de hoje.
O filme apresenta-nos algumas situações bem comuns, como a amiga que foi amante nos tempos de adolescência - interpretada por uma Julianne Moore que já teve desempenhos melhores -, o jovem que se sente completamente deslocado do mundo em que o querem colocar, ou a promiscuidade de um jovem adulto que tenta fazer de tudo para conseguir um lugar no mundo de Hollywood. 
O final acaba por não ser previsível, mas é bastante poético e belo.
A realização, o argumento e a fotografia estão ao mais alto nível, já para não falar da envolvente interpretação de Colin Firth que lhe valeu inclusive uma nomeação para o Oscar de melhor actor.
Um filme a ter em atenção e a não deixar escapar.

8/10

08 junho 2010

THE BESNARD LAKES "Are The Roaring Night"

Os The Besnard Lakes são uma banda canadiana, mais uma das criadas na primeira metade da década de 00, e que muitos bons frutos tem dado no mundo musical. Estes em particular têm uma sonoridade que acaba por se aproximar dos congéneres Broken Social Scene. Depois de um muito bom "The Besnard Lakes Are The Dark Horse", onde se inclui a estonteante "And You Lied To Me", de 2007, o quarteto lançou-se em busca de novos desafios, criando assim "The Besnard Lakes Are The Roaring Night".
Rock psicadélico, ambience, mas essencialmente shoegaze, caracterizam o som desta banda, que consegue, ao longo das 10 músicas presentes no álbum, manter a bitola equilibrada e num nível alto. Vozes alienadas, guitarras prementes e envolventes e melodias que facilmente nos conquistam fazem o resto.
A música introdutória, "Like The Ocean, Like The Innocent", está dividida em duas partes. A primeira apresenta-nos uns ares de psicadelismo, ao qual se juntam guitarras bem vincadas na segunda parte. Uma incursão de 7 minutos de muito bom gosto, absolutamente contagiantes, que transformam esta faixa numa das melhores que já ouvi este ano.
Os minutos iniciais de "Chicago Train" aproxima-nos do Universo de Bon Iver e o que de bom tal acarreta, entrando depois na onda mais característica da banda, mais perto do shoegaze ou do post-rock. Mas o que mais no envolve nos The Besnard Lakes é a capacidade com que eles nos embrulham na sua sonoridade, nos despertam a curiosidade para aquilo que fazem, para aquilo que transmitem. "Land Of Living Skies" e "Light Up Night" são isso mesmo e "And This Is What We Call Progress" é a prova viva da possível comparação com os Broken Social Scene, num excelente momento musical em que nada falta.
"The Besnard Lakes Are The Roaring Night" é um dos bons álbuns do ano, apesar de não me parecer tão bom como o anterior, demonstrando mais uma vez que os canadianos andam a dar cartas no mundo da música, com alguns dos projectos mais interessantes da actualidade. Óptimo para ouvir num momento mais intimista, de preferência em ambiente de meia-luz.

8/10

03 junho 2010

GORILLAZ - "Plastic Beach"

O projecto de animação de Damon Albarn dispensa grandes apresentações. No início deste século, os Gorillaz revolucionaram a música pop, muito à custa do pouco comum conceito da banda, de videoclips vistosos e de bonecos muito bem construídos. Os bons singles também ajudaram à divulgação. Depois de dois álbuns que alcançaram um enorme sucesso, a expectativa era muito alta para um dos mais aguardados regressos do ano.
"Plastic Beach" tem um cartão de visita potente: "Stylo" é uma grande música capaz de incendiar pistas de dança por todo o mundo, e que tem no seu vídeo (um dos grandes pontos fortes do projecto) um excelente ponto de partida. Mas a beleza interior acaba por nunca alcançar os níveis da cobertura exterior, daquela que causa a primeira impressão.
O álbum contém algumas orquestrações - o nome da música inicial é prova disso mesmo -, não esconde referências orientais em "White Flag", nem rejeita influência marcadas no hip-hop/rap em "Welcome to the World of the Plastic Beach", com Snoop Dogg. É por isso um álbum bastante diversificado, recheado de influências e de participações especiais, dos quais se destaca Lou Reed, em "Some Kind of Nature" e Little Dragon, em "Empire Ants", sem dúvida dois dos momentos mais bem conseguidos do terceiro disco dos Gorillaz. "Glitter Freeze" e "On Melancholy Hill", em registos completamente opostos (a primeira, super mexida e ritmada; a segunda, uma balada em que a voz do líder dos Blur sobressai naturalmente), são as outras duas faixas que valem a pena ser referidas.
Não sendo um álbum brilhante, "Plastic Beach" cumpre a sua principal função. Aquecer a malta nestes tempos de Verão que se aproximam. Ideal para ouvir em ambientes descontraídos.

7/10

02 junho 2010

Eles andem aí!

Cratera gigante na cidade da Guatemala

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