15 março 2010

Whatever Works

O mais recente filme do Woody Allen marca o regresso do realizador à "sua" cidade, Nova-Iorque, numa comédia que ganha contornos quase épicos com a interpretação soberba de um homem de meia-idade do mais depressivo, jocoso e negativista que existe por parte do grande Larry David.
"My story is, whatever works as long as you don't hurt anybody. Any way you can filtch a little joy in this cruel and pointless life, that's my story."
Esta frase quase que consegue descrever o filme. 
A história não é mais do que uma divagação sobre a morte, sobre o sentido da vida, das relações humanas, da vivência terrena, vista por um gajo que já tentou o suicídio e que, por azar, falhou a morte.
Consegue ver negatividade em tudo o que de bom lhe acontece na vida e é um derrotado por natureza. Essa natureza leva-o a desenvolver o mais mordaz e directo sentido de humor que já vi num filme, o que me levou a adorar cada bocadinho em que o Boris entrava. Aliás, Woody Allen prova com este filme ser um excelente argumentista, já que há falas absolutamente lindas. E tudo com uma história central do mais trivial que possa existir. Aqui, também entra a genialidade de Larry David na interpretação, coadjuvado essencialmente por pacóvios (ou "cretins") - gente que parecia atrair até ele, só para os poder criticar e maldizer.
"Whatever Works" é uma história que tem por base um amor quase impossível - ou irreal - entre uma jovem campónia burra e um velho rabugento génio da Física. Logo nesta relação, há material de sobra para explorar, mas o filme não morre aqui, e as personagens que vão sendo adicionadas trazem cada uma delas a sua peculiaridade, a sua excentricidade. São pessoas comuns, pessoas reais, levadas ao extremo e aproveitadas ao máximo por Woody Allen. Todos temos um pouco de cada um deles, todos nos identificamos um pouco com cada um deles, mas ao mesmo tempo todos nos queremos afastar deles.
Confesso que foi das comédias que mais gosto me deu ver, pelo tipo de humor e pela crueldade e natureza da personagem principal, que é absolutamente deliciosa (não me canso de repetir). Woody Allen demonstra aqui que está bem vivo e cheio de imaginação. E ainda bem, porque gente desta faz falta nas nossas vidas, nem que apareçam simplesmente uma vez por ano, como é apanágio do americano músico/realizador/actor/comediante/escritor/argumentista.
Para o final, deixo mais uma das fantásticas frases do filme, e das que mais "bateu", mesmo a terminar o filme - em beleza, diga-se de passagem!
"That's why I can't say enough times, whatever love you can get and give, whatever happiness you can filch or provide, every temporary measure of grace, whatever works."
Este é um filme que não pode passar despercebido aos amantes do humor. Muito, muito bom!

9/10

1 retro-introspecções:

elevet disse...

Vale pela aulinha de xadrez! Ai o peão de h2... Burros que não sabem que está envenenado=P

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