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04 setembro 2010

This Is England

Atenção a este filme! Muita atenção a este filme!
"This is England" é um filme independente inglês (obviamente), que retrata o mundo skinhead, bastante proeminente naquele país, durante a década de 80. Basicamente, o filme gira à volta de um puto de 12 anos que perdeu o pai na guerra travada por aquele país com as ilhas Farkland. Como é óbvio, e estando num momento sensível da sua vida, acaba por ser influenciado por pessoas mais velhas e com visões um pouco radicais do mundo e da vida em sociedade em geral.
O filme é cru. Não é perfeito na edição, no argumento, nas falas. Mas chega onde tem que chegar, da forma que quer chegar. Nenhum extremismo é bom, e é isso que deve ser transmitido. Em alguns momentos, é possível associá-lo ao "América Proíbida", essencialmente pela temática e pela influência exercida sobre menores, numa idade em que são facilmente manipulados.
Como já disse, é um filme que merece ser visto, mas de preferência com legendas, porque o sotaque dos intervenientes é cerradíssimo e não facilita minimamente!

8/10

26 julho 2010

Inception

O Verão de 2010 era muito ansiado, muito à custa do novo filme de Christopher Nolan, realizador habituado a surpreender os espectadores com as suas histórias e que tinha como último filme o grande sucesso "The Dark Knight". A juntar a isso, a inclusão de Leonardo DiCaprio - o actor que nunca tem um desempenho abaixo de "muito bom" - num elenco bastante interessante garantia, à partida sucesso. E aqui residia uma das dúvidas do filme. Seria "Inception" um blockbuster cujo único objectivo é conseguir a maior receita de bilheteira possível, sem ter em conta o conteúdo? Ter o nome de Chris Nolan grandemente associado ao projecto (é produtor, argumentista e realizador) fazia antever que não, e no final do filme a impressão ficou confirmada.
"Inception" é deste modo um filme quase perfeito, que conjuga o poder da história, da argumentação, da interpretação e dos efeitos visuais de forma a surpreender toda a gente que o vê com a sua densidade e os seus twists. É um filme que requer um estado mental na sua melhor forma, tendo em conta a complexidade do tema, mas que acaba por nos recompensar sobejamente.
"Inception" retrata basicamente a manipulação de sonhos, actuando no subconsciente das pessoas de forma a condicionar/modificar as opções da sua vida, nem que para isso se tenha que entrar em estádios de sonho demasiado profundos e até perigosos. "Inception" fala-nos do medo da perda, da vontade de regresso às origens, da necessidade de culpa, da negação e da confusão que o "mergulho" no mundo dos sonhos pode provocar.
É um filme denso, complicado e que aproveita talvez a primeira hora de filme para nos demonstrar aquilo de que trata e como trata. É a partir daí que o espectador tem que começar a jogar com toda a informação para conseguir ir compreendendo o desenrolar da história. O resto é para apreciar e jogar com os elementos que vão sendo dados. Pelo meio, há interpretações seguríssimas do já habitual DiCaprio, do surpreendente Joseph Gordon-Levitt - mais associado a filmes/séries de comédia -, ou da jovem revelação Ellen Paige, isto a juntar a alguns nomes consagrados como Michael Caine - um habitué dos filmes de Nolan - ou Ken Watanabe.
Uma nota ainda para o trabalho fantástico de Hanz Zimmer, que transforma o filme com a sua música intensa e cheia de alma.
Christopher Nolan conseguiu construir uma história original, não caindo em grandes clichés ou cópias. Conseguiu seduzir as grandes empresas cinematográficas a fazer um filme quase de autor, um filme à sua medida, bastando para tal juntar estrelas de Hollywood, efeitos especiais e alguns momentos de explosões (seriam dispensáveis? Talvez, mas não vale a pena ir por aí...), e deve receber os créditos por isso.
"Inception" é um filme para ser falado e discutido entre amigos durante horas e horas, porque momentos propícios não lhe faltam. O final então é capaz de deixar toda a gente a (des)esperar por mais, deixando assim no ar toda uma sensação de rever com maior pormenor a película!
 
É no fundo um filme à medida de uns realizadores mais jovens e mais respeitados de Hollywood, que se pode vir a transformar num verdadeiro fenómeno. Até agora, não há razões de queixa dos seus filmes.
A não perder! Definitivamente.

9/10

13 julho 2010

The Road

"The Road" é (mais) uma adaptação de um livro de Cormac McCarthy ao cinema. E se nunca li um livro deste autor (grande falha minha que pretendo corrigir nos próximos tempos), o mesmo já não se pode dizer das adaptações de livros deles ao cinema, fazendo inclusive com que "No Country For Old Men" continue na minha memória como uma das grandes histórias dos últimos anos cinematográficos.
Foi então com alguma curiosidade que decidi ver este filme, que num momento inicial poderia assemelhar-se bastante a "I Am Legend", esse sucesso comercial apenas um ano mais velho (ou pouco mais).
"The Road" relata a caminhada rumo ao sul e ao oceano de pai e filho, num mundo pós-apocalíptico, que levou quase à extinção da humanidade. Os animais morreram quase todos, os meios de sustento também... Restavam poucos seres humanos, que deixavam vir ao de cima o seu lado mais negro.
O filme fala-nos da luta contra o instinto animal, fala-nos da protecção incansável de um pai ao seu filho, fala-nos de amor, de perda, de dúvida, de crescimento num mundo cruel e sem sol.
Viggo Mortensen continua a sua caminhada de afirmação no cinema. Poucos são os papéis que ele faz e que não são muito bons. Aqui, faz mais uma interpretação muito acima da média, mostrando que está vocacionado para segurar filmes de uma ponta à outra. A participação do miúdo também é bastante intensa, e os papéis (bastante) secundários também foram bem entregues.
Em relação a aspectos mais técnicos, a fotografia é excelente. Toda a envolvência do filme assenta em ambientes soturnos e aterradores, o que foi totalmente conseguido através de cenários recheados de cinzentos. Sem dúvida que dá um toque muito especial na organização global do filme.
De resto, é só visualizar e apreciar, sem no entanto estar à espera de encontrar um filme cheio de acção, apesar de ter momentos de tensão e de algum suspense.

Resumindo, não percam a oportunidade de ver este filme. "The Road" é visualmente fortíssimo, mentalmente violento e filosoficamente rico.

8/10

16 junho 2010

The Imaginarium of Doctor Parnassus

Tinha uma certa curiosidade em ver este filme. Não só porque representa simbolicamente o último filme do actor Heath Ledger, mas também porque marcava o regresso de Terry Gylliam à realização. O elenco era respeitável. Para além do já referido Joker de “The Dark Knight”, havia um consagrado Cristopher Plummer e participações especiais de Johnny Depp, Collin Farrell e Jude Law, que permitiram a concretização da película depois do trágico incidente.
“The Imaginarium of Doctor Parnassus”, com uma tradução absurda para português (qualquer coisa como “Parnassus, o Homem que tentou enganar o diabo”), fala-nos da luta do bem contra o mal, de apostas e promessas entre Parnassus e o diabo. O essencial do filme gira à volta da possibilidade de Parnassus conseguir, com a mente, criar ambientes, cenários e paisagens de acordo com as pessoas que se deixam controlar pelos pensamentos do mágico.
No entanto, e apesar do conceito parecer apelativo, o filme foi uma desilusão. Achei-o confuso e enfadonho, repetitivo e um pouco longo de mais.
Os cenários, a caracterização e a fotografia são sem dúvida de alta qualidade. Mas penso que poderia ter havido mais imaginação, mais cor. As interpretações são medianas, à excepção do veterano Plummer. Heath Ledger é exuberante, mas não soberbo, e os actores que deram uma perninha no filme também não têm grande tempo de protagonismo, pelo que acabam por passar algo despercebidos.
Resumindo, estava à espera que “The Imaginarium of Doctor Parnassus” fosse arrebatador, apelasse à nossa imaginação, seduzisse com cenários, contasse belas histórias e respirasse aventura por todos os poros. Acabou por falhar em vários desses pontos.

5/10

Moon

“Moon” é um filme de ficção científica ao estilo de “2001, Space Odyssey”, mas sem as ambições deste ao nível da grandiosidade e da revolução que desencadeou na década de 70. 
Como o nome indica, a acção desenrola-se na Lua, num futuro impreciso, em que existem estações e aparelhos de recolha de hélio (do sol), responsável pela alimentação eléctrica de todo o planeta. Numa das quais, encontra-se uma pessoa – Sam Rockwell – que tem um contrato de 3 anos, durante os quais tem que permanecer na estação espacial construída no solo lunar completamente sozinho, tendo apenas a companhia de um computador. Com o passar do tempo, a personagem acaba por vir a descobrir verdades que não queria, e acaba por arranjar “companheiros” na sua luta pela liberdade.
O realizador consegue passar para o ecrã todas as emoções, quase que conseguimos saber o que cada um dos intervenientes pensa.
Os cenários lunares, apesar de eu não ser um especialista, pareceram-me realistas e bem conseguidos. É também curioso ver como os criadores de “Moon” pensam no futuro, na evolução da computação, da mecânica e da robótica. Aliás, este é um dos pontos que mais me entusiasma na altura de ver filmes deste género.
É uma película que nos fala dos problemas éticos da evolução tecnológica, da solidão, das relações interpessoais e da manipulação intelectual levada a cabo para que todos os objectivos corporativos sejam atingidos. Um filme independente (ou quase) que consegue chegar mais longe do que muitos que abordam temáticas semelhantes e que deve ser visto.

7/10

10 junho 2010

A Single Man

Será que um filme realizado por um estilista, que aborda a temática que lhe é mais próxima (a homossexualidade) e que tem no elenco um actor essencialmente conhecido pelas comédias-românticas-pipoca pode ser alguma coisa de importante na enorme indústria cinematográfica?
À partida, a resposta óbvia seria não. 
Um realizador (Tom Ford) sem experiência a criar um filme sobre o mundo interior de um homossexual deixa-nos logo de pé atrás. Mas a verdade é que "A Single Man" consegue ser poético sem pretensiosismos, consegue ser complexo com uma história simples, consegue prender-nos à história sem ter, aparentemente, grandes motivos para tal. E aqui o prémio terá que ir obviamente pela abordagem à temática.
"A Single Man" é a história de um professor homossexual de meia idade com todas as suas crises depois de, passados 16 anos de vida em comum, o seu companheiro morrer num acidente de viação. A trama desenrola-se em apenas 24 horas, com alguns flashbacks pelo meio, mas consegue retratar na perfeição todos os dramas internos e externos que um gay tinha que enfrentar na década de 60, onde a homossexualidade ainda era mais ostracizada do que nos dias de hoje.
O filme apresenta-nos algumas situações bem comuns, como a amiga que foi amante nos tempos de adolescência - interpretada por uma Julianne Moore que já teve desempenhos melhores -, o jovem que se sente completamente deslocado do mundo em que o querem colocar, ou a promiscuidade de um jovem adulto que tenta fazer de tudo para conseguir um lugar no mundo de Hollywood. 
O final acaba por não ser previsível, mas é bastante poético e belo.
A realização, o argumento e a fotografia estão ao mais alto nível, já para não falar da envolvente interpretação de Colin Firth que lhe valeu inclusive uma nomeação para o Oscar de melhor actor.
Um filme a ter em atenção e a não deixar escapar.

8/10

15 maio 2010

Afterschool

"Afterschool" é um filme independente de António Campos, um americano de ascendência brasileira que ainda nem chegou aos 30 anos.

Retrata a vida de adolescentes de um colégio religioso (principalmente a do jovem da capa), que fazem uma vida perfeitamente normal. Esse jovem é fanático por filmagens, e numa das filmagens para o clube de cinema do qual faz parte, acaba por filmar a morte de duas gémeas, duas das raparigas mais populares lá do sítio, por overdose.
O filme centra-se essencialmente na vida deste adolescente, na descoberta da sua sexualidade, das relações humanas, dos desgostos, das tristezas, da lide com a morte...
É um excelente retrato da sociedade de hoje em dia, em que facilmente jovens sem grande consciência e responsabilidade decidem alinhar em todo o tipo de esquemas, só porque é cool.
Nota muito positiva para a realização, que consegue conjugar momentos cinematográficos com outros mais ao estilo de documentário, captados pela câmara do protagonista, bem como diferentes
O filme acaba por ter um desenrolar algo imprevisível, apesar de eu estar à espera do final.
De referir ainda que é um filme que nos deixa a pensar, e eu gosto de coisas assim.
Nota global bem positiva.

7/10

12 maio 2010

Lolita

Li "Lolita", de Nabokov, há uns meses atrás e fiquei com a "pulga atrás da orelha" depois de descobrir que havia duas versões cinematográficas do livro, uma delas do mestre Kubrick.
Portanto, e depois de ter adorado o livro, decidi ver qual o retrato dado pelo falecido realizador norte-americano a um dos mais polémicos livros do século passado.
O filme é de 1962, a preto e branco e bastante longo (2h30, aproximadamente). O estilo de realização não se assemelha a nada do que já vi do realizador, e logo por aí acabou por me deixar de pé atrás.
Outro facto que acabou por desvirtuar um pouco a história foi a utilização de uma actriz para fazer de jovem adolescente com uma aparência muito adulta, o que acaba por contrastar grandemente com o que se lê no livro, e que é o que mais choca. Não sei bem os motivos para esta pequena "adulteração", mas acabo por compreender que fosse complicado colocar uma miúda de 12/13 anos a interpretar uma personagem com uma elevada carga sexual.
Passando ao filme propriamente dito, o mesmo começa pelo fim. Todos sabemos o desfecho nos primeiros minutos, e depois é um desbobinar da história de Humbert Humbert e da sua Lolita.
A construção da narrativa está bastante interessante, e dá-lhe um ar de maior suspense. No entanto, há algumas cenas que acabam por perder muito, apesar do bom trabalho realizado pela equipa na tentativa de reproduzir da melhor forma o extenso livro.
Não era um livro fácil de adaptar, quer pela densidade temática, quer pelo extenso desenvolvimento dos factos, mas Kubrick e a sua equipa conseguem espremer bem o sumo.
De longe, prefiro o livro ao filme, que mesmo assim acaba por ter momentos bastante intensos.

7/10

28 abril 2010

Star Wars Saga

Durante anos, vivi com a ideia de que não gostava de "Star Wars". A temática não me puxava, o fenómeno de massas e de fãs afastava-me ainda mais dos filmes. Nunca fui muito de seguir correntes, e como sou um gajo do contra, gostava de dizer mal mesmo sem nunca ter visto um minuto sequer de qualquer um dos filmes - coisa que não é fácil, já que volta e meia invadem as televisões de domingo à tarde.
Pois bem, tudo se confirmou - para quebrar desde logo o possível suspense.
"Star Wars" não me seduziu, não me conquistou, não me empolgou, não me emocionou, não nada.
Como todos sabem, esta saga foi dividida em duas trilogias. A primeira - exibida entre finais da década de 70 e início dos 80's - retratava os epiódios IV, V e VI, ficando a parte inicial da história reservada para o século XXI, mais de 25 anos após a primeira sequência de filmes. Sinceramente, não percebo muito bem o porquê desta situação... Mas tudo isto só para dizer que decidi seguir a ordem cronológica da história, e não a ordem cronológica de exibição dos filmes, pelo que comecei a saga pelo Episódio I, de 1999.
O básico da história acho que todos conhecem. Os filmes não são mais do que batalhas entre o bem e o mal, num futuro em que se viaja no universo (ou numa galáxia, mais propriamente) como se fôssemos de Gaia para o Porto e tivéssemos simplesmente que atravessar a Ponte da Arrábida (sem o trânsito de hora de ponta), regados com imensos efeitos especiais.

Confesso que tentei abstrair-me ao máximo das ideias pre-concebidas, das personagens que conhecia, de tudo aquilo que ouvia falar. Muitas coisas conhecia, muitas outras fiquei a conhecer - isto tem uma vantagem enorme, porque há dezenas de filmes, séries, sites ou livros repletas de referências a "Star Wars", e assim já não fico completamente alheado delas.
A primeira impressão que temos quando começamos a ver "Star Wars" é que aquilo está ali para encher chouriços, enquanto se tem uma história central bem desenvolvida mas bem curta. Há triângulos amorosos, há irmãos, há o bem e o mal, há tudo o que George Lucas queria que existisse. Mas, à parte da pequeníssima história central, tudo o resto é demasiado acessório, sem conteúdo... Longas cenas de acção (sem uma única fala), momentos repetitivos, diálogos ocos, e desenvolvimento da história, quase zero, tirando a parte final. Isto é comum a todos os filmes da saga e é um dos grandes motivos para eu achar a maior parte dos episódios uma tremenda seca. Então os dois primeiros episódios da saga são qualquer coisa de constrangedor...
Aliás, a ideia com que eu fico ao ver os seis episódios é que aquilo ficava bem só com 3 filmes, mas o sucesso fê-los inventar mais 3 episódios, para vermos o crescimento de Darth Vader e a formação do Império já perfeitamente estabelecido nos primeiros minutos do primeiro episódio (o IV). Claro que tal pode não corresponder à realidade - sinceramente não li sobre o assunto... -, mas que fico com essa ideia, lá isso fico.

Com isto, devo dizer que achei a primeira trilogia (IV, V e VI) em tudo superior à segunda (I, II e III). Acredito que em termos de ficção científica e efeitos especiais, o surgimento de "Star Wars" em 1977 tenha sido uma valente pedrada no charco (apesar de várias falhas perfeitamente identificáveis ao longo dos filmes, às quais não dou grande importância devido à época em que se realizaram as películas), mas basta uma comparação com "Blade Runner", feito poucos anos depois, e ficamos logo menos impressionados. Assim, os filmes da década de 70/80 são mais interessantes por toda a vertente da novidade, pela introdução dos diversos planetas, dos diferentes sistemas solares da galáxia "far, far awat", dos divertidos e estranhos seres inteligentes imaginados por Lucas, pela inovação tecnológica colocada ao serviço dos efeitos especiais.
Os filmes deste século são insossos e destacam-se apenas pelo aprimoramento das personagens (utilizando computadores e personagens virtuais) e pela melhor qualidade dos efeitos especiais e das batalhas - particularmente das coreografias nos combates entre Jedi's e Sith's, com os famosos sabres de luz (uma das grandes falhas dos capítulos IV-VI). A história, como já relatei, é praticamente inexistente, os diálogos são sofríveis e as longas cenas de batalhas ou corridas são desnecessárias e cansativas...

Uma crítica à saga em geral. Falta emoção. As batalhas acontecem sem que nada o anuncie, praticamente. Não há a criação de suspense, de empolgamento, as cenas são coladas à pressa... Isso retira também um pouco da piada ao filme. Também tenho que destacar algumas falhas na história... Uma das que me recordo melhor é os robots não se lembrarem, no início do episódio IV, das personagens que transitaram desde os episódios I-III, com os quais conviveram durante largo período.
Agora, as partes que mais me agradaram.
Todas as personagens desenvolvidas. Primam pelas semelhanças com seres conhecidos na Terra (falos dos diferentes seres inteligentes e dos animais selvagens ou domésticos), mas incluem elementos vanguardistas. Destaque para para a dupla robótica (C3PO e R2D2), sem dúvida o casal mais cómico da saga, e para o Yoda da versão antiga, que mais parece uma personagem saída da Rua Sésamo - com tudo de bom que isso acarreta. A desilusão acaba por ser o Darth Vader dos 80's, que tem um ar pouco assustador e sinistro, pelo menos não tem a carga simbólica do mal demasiado carregada e bem explorada. No último episódio dos filmes mais recentes, esse aspecto transmitiu uma muito superior carga de intensidade, que acabou por não ter correspondência. De resto, e tendo em conta as personagens principais, não há grandes destaques de interpretação, mas esse também não era o objectivo dos filmes.
Há ainda a destacar as indumentárias e instrumentos utilizados, que numa visão 30 anos à frente nos fazem esboçar um sorriso com as ideias que os autores da época tinham sobre o futuro. Penso que as coisas evoluiram rápido demais (noutros - por exemplos, os carros voadores -, não evoluiram) para os pensamentos que os autores de filmes de ficção científica tinham sobre o futuro. São visões interessante e comuns a todos os filmes do género. No entanto, é sempre difícil prever aquilo que se vai passar no futuro, e acaba por se rum exercício interessante e engraçado.

Para finalizar, e numa altura em que o texto já vai longo, devo dizer que considero a saga "Star Wars" um marco no cinema de massas, por toda a evolução tecnológica que despoletou e por todo o fenómeno que provocou devido às extravagantes e marcantes personagens que existem no enredo. Mas "Star Wars" no seu todo acaba por ser vazio de conteúdo, principalmente nos episódios mais recentes, que - repito - me parecem um tremendo "encher chouriços".
Não vou voltar a ver os filmes porque não me deixam saudades, mas fica o conhecimento geral e a possibilidade de integrar conversas que muitas vezes rodam à volta do Universo Lucas.

5/10

11 abril 2010

Blade Runner

Na minha senda por filmes mais antigos que gostaria de ver mas que nunca tive a oportunidade de o fazer até este momento, um dos visados foi "Blade Runner", um filme de ficção científica, de 1982, quando a loucura à volta de "Star Wars" atingia os píncaros.
Na história, a Terra está praticamente sem habitantes, que foram transferidos para melhores planetas. Na história, existem "robots" praticamente humanos, criados pelo Homem para serem seus escravos. Mas como a evolução tecnológica envolvida no seu desenvolvimento é tão grande, os "robots" acabam por pensar como humanos, e o que mais querem fazer é vingar-se dos humanos por todo o mal que estes lhes fazem. Para tratar desses seres insubordinados, existem os Blade Runners, uma espécie de caça-fantasmas, entre os quais se destaca Harrison Ford.
Esta é a trama geral de "Blade Runner", que não é um filme de ficção científica igual a "Star Wars". Não há acção desenfreada, as cenas são calmas, adquiridas com grande paciência e detalhe. Além disso, o filme tem por base acontecimentos futuristas, mas tenta ser muito mais do que isso. Tenta e consegue!
"Blade Runner" é um tratado filosófico sobre a solidão, a mente humana, as relações e os prós e contras da evolução tecnológica. Recorrendo a eventos considerados hoje muito perto do impossível, Ridley Scott esforça-se por criar metáforas de tudo o que acontece no nosso planeta e apenas com humanos.
Falando nos efeitos especiais, e tendo em conta a época em que o filme foi feito (quase há 30 anos!), estão perfeitos! É engraçado verificar ainda a forma como adivinham os carros no futuro, as casas, etc... Mas, no que toca a tecnologia, há a tentativa de expor ao máximo possíveis falhas. E esse foi um trabalho realizado com mestria pelo realizador e pela sua equipa.
Com um filme de ficção científica, Ridley Scott conseguiu criar um marco no cinema, que acabou por ser um pouco desprezado devido ao show-off e euforia provocados pelos filmes da saga de George Lucas.
"Blade Runner" é poesia.

9/10

07 abril 2010

Eyes Wide Shut

"Eyes Wide Shut" foi o último filme de Stanley Kubrick, que morreu pouco tempo depois de o concluir, e que conta com a participação do casal do momento da altura, Nicole Kidman e Tom Cruise. Depois de vários anos a dizer que tinha que ver o filme, finalmente decidi-me.
Tudo se passa na Alta Sociedade de Nova Iorque, em que a mulher de um conceituado médico confessa ao marido ter sido infiel no passado, levando a que o marido sinta um turbilhão de emoções - que levam a um desencadear de acontecimentos -, que o vão conduzindo para diferentes cenários ao longo das duas horas e trinta minutos de filme.
O filme não é imediato (como tudo o que vem do mestre Kubrick) nem é para ser visto de qualquer forma. Não nos dá as respostas todas que queremos, tem diálogos longos que explicam a maior parte do filme e tem longos momentos de "passagem" de imagens também, sem qualquer fala.
"Eyes Wide Shut" expõe quase na perfeição as emoções desencadeadas por uma traição, sejam elas sede de vingança, insegurança, ciúme, desejo de novas aventuras... Ao mesmo tempo, consegue introduzir algumas temáticas bastantes curiosas, como as sociedades secretas, o mundo da prostituição e da "fachada social".
"Eyes Wide Shut" é um crítica mordaz à sociedade actual, mas não deixa de descrever muito bem aquilo por que muitas relações passam durante a sua vida.
É um filme que ostenta uma grande carga sexual/sensual, que no fundo caracteriza o lado mais animal e instintivo do ser humano. Pelo meio, ainda podemos encontrar algumas pontas de mistério na trama (muito bem auxiliadas pela banda sonora), o que nos faz olhar o filme de diferentes perspectivas.
Quanto à realização, é o já conhecido de Kubrick. Longos planos, que nos dão a possibilidade de captar diversos pormenores.
Não é o melhor filme do Kubrick que já vi, mas não deixa de ser muito bom! Pena não haver muitos visionários como ele.

8/10

29 março 2010

Sherlock Holmes

Nunca li nada do Sir Arthur Conan Doyle, portanto não sou nem um conhecedor nem um fã (por arrasto) dos livros "Sherlock Holmes", apesar de saber que é uma falha literária minha.
A chegada de "Sherlock Holmes" ao cinema pela mão de Guy Riychie fez-me despertar alguma vontade de ver o filme. Gosteo do trailer, gostei de vários filmes do realizador inglês, e a perspectiva dada ao detectiva parecia-me ser bastante interessante.
Portanto, "toca a ver o filme"!
Desde logo, a abordagem feita ao filme e às suas personagens parece-me ser algo distinta da da literatura. 
Temos uma dupla Holmes-Watson com dotes de artes marciais, recheada de humor e sarcasmo - esta última parte sendo talvez a que mais me agrada no filme. Todo o filme assenta num Sherlock Holmes alienado, sozinho (o amigo de sempre arranjou uma companhia feminina), até frustrado (pela falta de casos para desvendar). E acaba por ser uma perspectiva bastante interessante, principalmente na sua relação com o amigo médico.
Aliás, creio que a mais-valia do filme deve-se na sua essência ao desempenho dos dois actores principais - Robert Downey Jr. e Jude Law -, que demonstram uma química bastante interessante. Os "jogos" provocados pelo detective ao longo do filme são de facto os momentos altos do mesmo.
A fotografia é soberba, a banda sonora também, e a história também é aceitável, desenrolando-se à volta de um mistério sobre Magia Negra.
No fundo, este acaba por ser um filme de entretenimento e de acção, que desagradará a alguns fãs mais acérrimos do universo de Holmes, mas eu até achei piada a toda a vertente alternativa. Pelo menos, fica-se a conhecer um outro lado, uma outra perspectiva.

6/10

22 março 2010

Remember Me

Sábado à noite foi dia de acompanhar a namorada a ver um filme que assenta 3/4 do seu sucesso (se não for mais) no facto de ter como actor principal Robert Pattinson, o vampiro da saga "Twilight".
Confesso que fui sem expectativas nenhumas para a sala de cinema, que estava recheada de casalinhos e grupinhos de "pitas", por razões óbvias.
O filme acabou por ser uma surpresa para mim. 
Por não ser uma comédia romântica, como se anuncia - pelo menos não é das típicas. Por ter muito mais drama do que aquilo que seria previsível. Por ser uma história banal, mas que consegue ser menos oca do que muito do que se vê por aí em filmes do género.
"Remember Me" retrata a história de um jovem casal com histórias de vida algo semelhantes devido à morte de familiares directos muito importantes e influentes na sua vida, que acabam por fugir à norma dos habituais jovens só preocupados com bebedeiras e festas. Os dramas familiares de cada um vão cruzando, vão-se envolvendo e a história vai-se desenrolando a bom ritmo.
Os actores do filme não são soberbos, mas são conhecidos e competentes, o que também ajuda ao sucesso do filme. a história tem alguns pontos dispensáveis, mas no geral é bem agradável e surpreendente.
A parte final considero que seria dispensável. Acaba por tirar um pouco da piada ao filme.
Um filme engraçado.

6/10

15 março 2010

Shutter Island

Este era um dos filmes deste início de ano que mais expectativas me gerava. Sou um fã do Martin Scorsese e gosto de todos os seus filmes (os que vi) e aprecio bastante as qualidades de representação do seu fiel acompanhante, Leonardo DiCaprio (nunca o vi fazer um papel mau).
Outro dos motivos que me provocava alguma curiosidade era a história e o género do filme, um pouco distante daquilo a que estamos habituados no realizador.
Sendo assim, Scorsese decidiu brindar-nos com um thriller psicológico, um filme repleto de suspense e momentos intensos.
"Shutter Island" passa-se na década de 50 e é sobre a investigação por parte de um Marshall ex-militar da II Guerra Mundial do desaparecimento de uma doente psiquiátrica do mais perigoso hospital/prisão psiquiátrico dos EUA, situado numa ilha completamente isolada e inacessível e da qual é impossível escapar. Logo aqui, o caso ganha contornos estranhos, não só pelas circunstâncias do desaparecimento mas também pela atitude das pessoas que lá trabalham.
Durante a primeira parte do filme, Scorsese consegue colocar de forma perfeita todas as cartas do baralho em cima da mesa. Faz-nos estar bem atentos a cada uma das personagens, a tentar descobrir os seus pontos fracos em busca da resolução do mistério. Só por aqui se vê a mestria do realizador, que nos deixa de facto com dúvidas em relação a tudo e todos. Depois ao longo do filme, mais revelações vão sendo feitas e as peças do puzzle começam a ligar umas com as outras, encadeando o filme e prendendo-nos do primeiro ao último minuto, porque não queremos - nem podemos - perder um único pormenor da história. É um filme que nos deixa colado ao ecrã e que nos faz ir pensando. Ou seja, o filme controla-nos a nós e nós não conseguimos controlar o filme. A cena dos fósforos é particularmente intensa e deixou-me com os nervos em franja.
O resto é classe de realização e de interpretação. A carga psicológica dada ao filme é poderosa e o ambiente circundante avassalador. É quase um filme de terror série B, tal a forma como é abordado, mas consegue também distanciar-se (ou não aproximar-se, depende do objectivo inicial) desse género de uma forma bastante original. 
Os planos, a fotografia e as personagens fazem o resto. DiCaprio está magistral, como sempre. Aliás, não lhe conheço nenhum papel abaixo do "muito bom" (posso estar a ser pouco preciso, mas essa é a opinião com que fico depois de ver vários filmes em que ele participa). Ben Kinglsey consegue transmitir precisamente aquilo que lhe é pedido: mistério, segurança, certezas que nos deixam desconfiados. E até Mark Ruffallo, apesar de não ser um actor que aprecie muito, tem um papel bastante interessante e enigmático.
O filme segue o rumo que os seus autores decidiram seguir (e muito bem!) e a parte final é absolutamente soberba. Não alteraria nada no filme.
"Shutter Island" é enigmático quando tem que ser, é stressante quando tem que ser, é comovente quando tem que ser, é assustador quando tem que ser. Tudo na dose certa e no momento correcto.
"Shutter Island" é uma lição de borla a todos aqueles que querem (e tentam) fazer filmes de suspense ou thrillers. E há que aproveitar, que o mestre Scorsese não vai estar disponível a vida toda e provavelmente não voltará ao género. E ainda bem, que assim fica bem recordado.

9/10

Whatever Works

O mais recente filme do Woody Allen marca o regresso do realizador à "sua" cidade, Nova-Iorque, numa comédia que ganha contornos quase épicos com a interpretação soberba de um homem de meia-idade do mais depressivo, jocoso e negativista que existe por parte do grande Larry David.
"My story is, whatever works as long as you don't hurt anybody. Any way you can filtch a little joy in this cruel and pointless life, that's my story."
Esta frase quase que consegue descrever o filme. 
A história não é mais do que uma divagação sobre a morte, sobre o sentido da vida, das relações humanas, da vivência terrena, vista por um gajo que já tentou o suicídio e que, por azar, falhou a morte.
Consegue ver negatividade em tudo o que de bom lhe acontece na vida e é um derrotado por natureza. Essa natureza leva-o a desenvolver o mais mordaz e directo sentido de humor que já vi num filme, o que me levou a adorar cada bocadinho em que o Boris entrava. Aliás, Woody Allen prova com este filme ser um excelente argumentista, já que há falas absolutamente lindas. E tudo com uma história central do mais trivial que possa existir. Aqui, também entra a genialidade de Larry David na interpretação, coadjuvado essencialmente por pacóvios (ou "cretins") - gente que parecia atrair até ele, só para os poder criticar e maldizer.
"Whatever Works" é uma história que tem por base um amor quase impossível - ou irreal - entre uma jovem campónia burra e um velho rabugento génio da Física. Logo nesta relação, há material de sobra para explorar, mas o filme não morre aqui, e as personagens que vão sendo adicionadas trazem cada uma delas a sua peculiaridade, a sua excentricidade. São pessoas comuns, pessoas reais, levadas ao extremo e aproveitadas ao máximo por Woody Allen. Todos temos um pouco de cada um deles, todos nos identificamos um pouco com cada um deles, mas ao mesmo tempo todos nos queremos afastar deles.
Confesso que foi das comédias que mais gosto me deu ver, pelo tipo de humor e pela crueldade e natureza da personagem principal, que é absolutamente deliciosa (não me canso de repetir). Woody Allen demonstra aqui que está bem vivo e cheio de imaginação. E ainda bem, porque gente desta faz falta nas nossas vidas, nem que apareçam simplesmente uma vez por ano, como é apanágio do americano músico/realizador/actor/comediante/escritor/argumentista.
Para o final, deixo mais uma das fantásticas frases do filme, e das que mais "bateu", mesmo a terminar o filme - em beleza, diga-se de passagem!
"That's why I can't say enough times, whatever love you can get and give, whatever happiness you can filch or provide, every temporary measure of grace, whatever works."
Este é um filme que não pode passar despercebido aos amantes do humor. Muito, muito bom!

9/10

11 março 2010

Alice in Wonderland

"Alice in Wonderland" era sem dúvida um dos filmes mais aguardados dos últimos tempos. Realizado por um dos mais excêntricos e adorados cineastas dos nossos tempos, com actores de primeira linha e com a história famosa de Carroll que todos adoram.
Adianto já que "Alice" deixou de ser propriamente um filme de maravilhas, mas antes de pesadelos, de monstros, de terrores. Mas sem nunca deixar de atingir o seu real objectivo.
A história de "Alice" passa-se 13 anos depois da primeira visita da pequena ao "País das Maravilhas". O problema é que deixou de ser "Wonderland" e passou a ser "Underland". Terras sem cor, pálidas e escuras a contrastar com a alegria e a cor dos seus habitantes. E para isso estava lá Tim Burton e as suas personagens desproporcionadas, pálidas e completamente surreais, formando assim a conjugação ideal para miúdos e graúdos, cada um ao seu jeito, apreciarem o filme na máxima plenitude. 
Com este filme, o realizador americano consegue emprestar a todas as personagens um quê de divertido, sem nunca lhes tirar o ar sinistro. Assim, "Alice no País das Maravilhas" não deixou de ser um filme "burtoniano" nem deixou de ser um filme infantil. 
Confesso que sou um fã (dos grandes) de Tim Burton. Porque gosta de brincar com a imaginação - com a dele e com a nossa também. Portanto, os seus projectos são quase todos a apelar ao fantástico, à fantasia (coisas diferentes), ao grotesco. Este não fugiu à regra, e ver as personagens que todos nós imaginámos de uma forma há algumas décadas ganharem contornos completamente distintos é das coisas mais divertidas do Universo Burton. Ver um Chapeleiro lunático, uma Rainha Vermelha desproporcional e agressiva ou uma Rainha Branca do mais pálido e sensível que existe é algo que só se pode vivenciar na sua plenitude numa sala de cinema.
Depois, e em termos mais técnicos, tudo bate certo no filme. Fotografia espectacular, composição das personagens surrealmente divertida. Acho que não se podia pedir mais, a não ser uma duração curta do filme, que foi conseguida (1h40 de filme parece-me apropriado ao tipo de filme e à história). 
Tim Burton conseguiu reinventar um clássico infantil e fazer dele um clássico sénior também. Está de parabéns!


8/10

08 março 2010

Noite dos Oscars

Já começa a ser um ritual.
Na noite dos Oscars, lá vou eu para o sofá, agarro num cobertor para me aquecer as pernas e arranjo coisas de comer para o estômago não sentir também a diferença de temperatura.
Ontem não foi excepção e à uma da manhã lá estava eu com os olhos sintonizados na TVI (parte chata da coisa).
Da famosa "red carpet", não falo muito e deixo o assunto para especialistas (tipo revista Caras ou Nova Gente), mas gostei particularmente de ver o George Clooney a quebrar o protocolo e a andar que nem um maluco a cumprimentar os curiosos atrás das grades que por lá andavam.
Falando da cerimónia em si, não prometia grande coisa. 
Não havia filmes soberbos este ano, tirando uma ou outra excepção (mas já lá vamos), e a luta marido vs. mulher parecia ter ganho contornos épicos. Aquilo que mais me alegrava era poder ver um dos mais talentosos actores de comédia do momento, Alec Baldwin, a apresentar em conjunto com o veterano Steve Martin. Mas, e começo já por concluir, a parelha não foi espectacular. Tirando alguns momentos bem tirados, não houve grande inspiração - ou seria tempo, já que decidiram cortar à duração do programa para chamar mais audiência? - e acabei por sair um pouco desiludido com a apresentação. Até porque a organização prometia a primeira hora de programa mais dinâmica e fantástica de sempre, e eu só me lembrava do Hugh Jackman no ano passado (que já não foi nada de especial, veja-se lá). A rapidez com que despacham agora os vencedores é também constrangedora... Afinal, os heróis da festa são eles, e quando apenas têm 45 segundos para falar...
Falando agora da distribuição das estatuetas douradas, "The Hurt Locker" limpou aquilo (quase) tudo. Até algumas das categorias técnicas que seria de esperar que fossem para "Avatar" acabaram por ir para o filme de Kathryn Bigelow sobre a guerra do Iraque. Por falar na realizadora, esta edição dos Oscars acabou por ser histórica, já que foi a primeira vez que uma mulher conquistou a estatueta mais querida, num "mundo" habitualmente dominado por homens. Espero sinceramente que as coisas vão mudando, porque fazem falta outras visões na sétima arte.
"The Hurt Locker", um dos mais improváveis vencedores de sempre, conseguiu a proeza de ser um filme independente, de ter um orçamento reduzido, de ter andado em festivais europeus há 2 anos e de apenas ter entrado no mercado americano no ano passado (facto que lhe permitiu concorrer) e de vencer o mais caro e programado filme de toda a história cinematográfica. Aliás, passou por Portugal no final do Verão e ninguém deu por ele, tanto que até já foi editado em DVD. 
Foi a vitória da simplicidade sobre glamour, do pobre ao rico, do David contra o Golias. Aliás, ver um filme como "Avatar" receber apenas prémios nas categorias técnicas "cheira" a derrota pesada...
Já aqui dei a minha opinião sobre grande parte dos filmes concorrentes, e preferi que tivesse ganho um filme sentido, intenso, real e com um argumento sobre um que assenta toda a sua trave-mestra nos efeitos de imagem e nos CGI. Mas fiquei, mais uma vez, desiludido por ver que a luta se resumiu a dois (quase uma luta de géneros e de fomentadores das historietas tão típicas naquela cidade), enquanto o filme mais brilhante de 2009 assistia à batalha, com vontade de matar mais uns nazis, porque os de "Inglourious Basterds" parece que não foram suficientes. O filme do génio Quentin Tarantino passou mais uma vez ao lado da cerimónia. Eu tenho para mim que o criador de Pulp Fiction ou Kill Bill nunca ganhará nada descaradamente enquanto não estiver na fase descendente da carreira. Não sei se o ego dele colide com os da Academia, não sei se o consideram demasiado afastado do mainstream Hollywoodesco, mas sei que aquele gajo merecia, no mínimo, o prémio de melhor Argumento Original. Aliás, acho que já é estranho ele ser nomeado.
Assim, um filme daquela qualidade (para mim, de longe o melhor do ano) ficou restringido a receber um prémio pela soberba e demoníaca interpretação de Christoph Waltz (não lhe dar o prémio seria demasiado escandaloso), ele que foi juntamente com Mo'nique - na sua intensa e fantástica interpretação em "Precious" - o grande actor da noite. Curioso, aliás, verificar que as melhores performances em termos de actores pertenceram, na minha opinião, aos apelidados de "secundários", mas que prenderam os espectadores dos respectivos filmes até ao fim como mais ninguém. Na distribuição das restantes estatuetas a actores, não houve surpresas e Jeff Bridges conquistou o tão almejado prémio. A primeira interpretação marcante dele foi em "The Big Lebowski", dos imrãos Coen, e mesmo sem ter visto "Crazy Heart", arrisco-me a dizer que se estiver ao nível da do filme de 98, então mereceu inteiramente! Sandra Bullock conseguiu receber menos de 48 horas os prémios antítese um do outro: o de pior actriz em "The Proposal" (nos Razzies) e o de melhor actriz em "The Blind Side" (nos Oscars). Coisa nunca dantes vista, mas que tendo em conta o seu desportivismo e sentido de humor, foi a melhor coisa que lhe podia ter acontecido.
Por fim, gostei de ver "Up" ganhar a melhor animação e a melhor banda sonora (que é de facto linda!), não gostei de ver "Up In The Air" e "District 9" sem nenhum Oscar e gostei de ver o Ben Stiller a falar Na'vi. 
Foi sem dúvida dos momentos mais divertidos da noite!
Uma edição dos Oscars que não vai deixar muitas saudades, tirando o momento histórico de ver a primeira mulher a vencer na categoria de Realização.
Aqui fica a lista de todos os vencedores:
Melhor Filme: "The Hurt Locker"
Melhor Actor: Jeff Bridges, "Crazy Heart"
Melhor Actriz: Sandra Bullock, "The Blind Side"
Melhor Realizador: Kathryn Bigelow, "The Hurt Locker"
Melhor Filme Estrangeiro: "El Secreto de Sus Ojos", Argentina
Actor Secundário: Christoph Waltz, "Inglourious Basterds"
Actriz Secundária: Mo'Nique, "Precious"
Argumento Original: Mark Boal, "The Hurt Locker"
Argumento Adaptado: Geoffrey Fletcher, "Precious"
Filme de Animação: "Up", Pete Docter
Direcção Artística: "Avatar"
Melhor Guarda-Roupa: "The Young Victoria"
Melhor Maquilhagem: "Star Trek"
Melhor Cinematografia: "Avatar"
Melhor Documentário: "The Cove"
Efeitos Visuais: "Avatar"
Edição de Som: "The Hurt Locker"
Mistura de Som: "The Hurt Locker"
Edição de Filme: "The Hurt Locker"
Banda-sonora Original: "Up"
Canção Original: The Weary Kind, "Crazy Heart"
Em resumo:
Vencedor da noite: "The Hurt Locker"
Derrotado(s) da noite: "Avatar" e "Up In The Air"
Injustiçado da noite: Quentin Tarantino (o do costume)

Até para o ano!

07 março 2010

The Blind Side

A história verídica de um adolescente sem-abrigo acolhido por uma família rica dos EUA e envolvido num ambiente completamente distinto do seu - habituado à violência e droga de um bairro social, passa a frequentar a "alta sociedade" e um colégio privado cristão.
 
"The Blind Side" é uma posição de futebol americano (pelo que percebi do filme). É ocupada por um jogador que deve, acima de tudo, defender o "quarterback" (o gajo que manda a bola para a frente) de qualquer placagem adversária. É aquela posição em que o seu ocupante está sempre lá, aconteça o que acontecer, para proteger a sua equipa. E é também um bom resumo do filme.
"The Blind Side" é uma história de amor, de caridade, de vontade de ajudar o próximo. É um murro no estômago aos estigmas que todos nós criamos sobre determinada classe social ou grupo.
Sandra Bullock faz (e muito bem!) de "tia de Cascais" empertigada com um coração de manteiga, e é coadjuvada por um jovem bruta-montes cheio de razões para ser violento, criminoso e mal-feitor, mas tudo o que consegue ser é a pessoa mais calma e amiga do mundo.
Não sendo um filme de mover montanhas, está aqui uma história bem feita e comovente em alguns pontos, com boas interpretações (o "irmão" mais novo é de ir às lágrimas, tal a "raça" do miúdo) e, como já disse, algumas lições de vida. Para ver e para pensar um pouco (não muito).

7/10

06 março 2010

Up In The Air

Há umas semanas, vi "Up In The Air", mais um dos filmes na corrida aos Oscars e que ainda não comentei por aqui. Tinha uma certa expectativa em relação a este filme, principalmente porque é do Jason Reitman, o realizador de um dos filmes mais bem conseguidos de há 2 anos, o "Juno".
A história do filme é algo básica e simples - mas não simplista -, e assenta na vida de um homem de meia-idade (George Clooney) que tem como função despedir pessoas de diversas empresas espalhadas pelo país e que, por isso mesmo, passa a vida a viajar, desligando-se quase por completo de relações interpessoais e de quaisquer bens que o façam sentir ter uma casa, um ponto onde sempre se pode abrigar.
O filme é por si só uma grande crítica a toda a sociedade actual, cheia de plastificações, cheia de coberturas para as verdadeiras faces dos intervenientes. Temos o "bon-vivant" que apenas vive com uma pequena mala em que carrega tudo o que realmente necessita (aliás, utiliza o exemplo da mala para dar palestras motivacionais) e que não se preocupa nada com relações - sejam elas de que tipo forem -, temos a jovem recém-licenciada cheia de ideias inovadoras mas por dentro não é mais do que insegurança, e temos a versão feminina (ou quase) do primeiro caso descrito. Os contrastes vão sendo evidenciados ao longo do filme, principalmente tendo em conta a restante família da personagem principal, que não é mais do que a antítese da mesma.
"Up In The Air" é um filme - dir-se-á - leve, descontraído, mas que ao mesmo tempo consegue falar com seriedade de alguns dos grandes problemas da sociedade actual, como o desemprego, a solidão, a efemeridade das relações. No fundo é um filme leve, mas que deve ser levado muito a sério.
O fim não é mais do que uma grande lição de vida, um olhar intrínseco para aquilo que a sociedade actual exige de nós e aquilo que nos dá de volta, quando se vê que os grandes objectivos da vida muitas vezes são algo supérfluos. 
Um excelente filme, contado de uma perspectiva bem refrescante e com grandes interpretações dos principais intervenientes - prova disso são as 3 nomeações para os Oscars para os 3 principais actores. 
Resumindo, "Up In The Air" é um filme para ver descontraidamente, sem nunca largar do pensamento a mensagem que o mesmo quer transmitir.

8/10

The Hurt Locker

Este filme andou na rota de festivais europeus em 2008, mas como apenas em 2009 chegou aos EUA está habilitado a ganhar umas estatuetas.
"The Hurt Locker" - em português "Tempos de Guerra" - é um filme sobre a Guerra do Iraque, sem no entanto ser mais um filme de guerra.
E passo a explicar porquê.
Habitualmente, os filmes de guerra regem-se pela máxima "Se tiver menos de 4 explosões e menos de 7 braços e pernas a voar por minuto, não conta!". De notar que também há explosões e tiroteios, mas nada que ultrapasse o limite do razoável.
"The Hurt Locker" faz precisamente o contrário. Faz-nos perceber que a guerra não é tão emocionante e activa como podemos pensar. Faz-nos ver o outro lado da guerra. Faz-nos sentir o lado real da guerra.
Durante as 2 horas de filme, é-nos contada a história de um grupo de três militares da brigada de explosivos, encarregues de desactivar os mais mirabolantes engenhos explosivos e liderados pelo Sargento James, o maior "guru" daquela arte.
Kathryn Bigelow (por curiosidade, é a ex-mulher do famoso James Cameron de "Titanic" e "Avatar") consegue colocar emoção, drama e suspense num filme particularmente "parado", como dirá muita gente. Mas é nesses momentos calmos, e sem pressas nenhumas, que se conseguem captar melhor as emoções dos intervenientes, revelando as suas fraquezas, as suas forças, as suas loucuras, as suas convicções. E esse é o ponto forte do filme. Não tenta fazer as cenas à pressa, dá-nos as situações mais diversificadas de um cenário de guerra, sem nunca perder de vista o lado mais humano dos militares.
Quanto à realização, é feita de um modo algo invulgar, sempre numa perspectiva muito próxima do actor, de tal modo que por vezes parece que estamos a assistir a um documentário, o que torna tudo um pouco mais real.
A fotografia é excelente, o tratamento dos cenários de guerra, quer no deserto quer na cidade de Bagdad são muito bem conseguidos.
Quanto a interpretações, as três personagens principais conseguem interpretar na perfeição três estereótipos de militares. Aquele que não sabe muito bem como lá foi parar, aquele que está ciente do seu papel mas que tem os pés bem assentes na terra, e aquele que é viciado no seu trabalho e na sua função. O último - e como se pode ver pela "tagline" do filme - é o centro de toda a história, e Jeremy Renner consegue interpretar o papel na perfeição.
Tudo o resto, deve ser visto a apreciado, porque está aqui um dos bons filmes do ano, vindo de mais um filme-surpresa, sem aqueles orçamentos bombásticos da indústria de Hollywood, tal como "District 9" por exemplo. Será isto um sinal para a indústria norte-americana?

8/10

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