Durante anos, vivi com a ideia de que não gostava de "Star Wars". A temática não me puxava, o fenómeno de massas e de fãs afastava-me ainda mais dos filmes. Nunca fui muito de seguir correntes, e como sou um gajo do contra, gostava de dizer mal mesmo sem nunca ter visto um minuto sequer de qualquer um dos filmes - coisa que não é fácil, já que volta e meia invadem as televisões de domingo à tarde.
Pois bem, tudo se confirmou - para quebrar desde logo o possível suspense.
"Star Wars" não me seduziu, não me conquistou, não me empolgou, não me emocionou, não nada.
Como todos sabem, esta saga foi dividida em duas trilogias. A primeira - exibida entre finais da década de 70 e início dos 80's - retratava os epiódios IV, V e VI, ficando a parte inicial da história reservada para o século XXI, mais de 25 anos após a primeira sequência de filmes. Sinceramente, não percebo muito bem o porquê desta situação... Mas tudo isto só para dizer que decidi seguir a ordem cronológica da história, e não a ordem cronológica de exibição dos filmes, pelo que comecei a saga pelo Episódio I, de 1999.
O básico da história acho que todos conhecem. Os filmes não são mais do que batalhas entre o bem e o mal, num futuro em que se viaja no universo (ou numa galáxia, mais propriamente) como se fôssemos de Gaia para o Porto e tivéssemos simplesmente que atravessar a Ponte da Arrábida (sem o trânsito de hora de ponta), regados com imensos efeitos especiais.
Confesso que tentei abstrair-me ao máximo das ideias pre-concebidas, das personagens que conhecia, de tudo aquilo que ouvia falar. Muitas coisas conhecia, muitas outras fiquei a conhecer - isto tem uma vantagem enorme, porque há dezenas de filmes, séries, sites ou livros repletas de referências a "Star Wars", e assim já não fico completamente alheado delas.
A primeira impressão que temos quando começamos a ver "Star Wars" é que aquilo está ali para encher chouriços, enquanto se tem uma história central bem desenvolvida mas bem curta. Há triângulos amorosos, há irmãos, há o bem e o mal, há tudo o que George Lucas queria que existisse. Mas, à parte da pequeníssima história central, tudo o resto é demasiado acessório, sem conteúdo... Longas cenas de acção (sem uma única fala), momentos repetitivos, diálogos ocos, e desenvolvimento da história, quase zero, tirando a parte final. Isto é comum a todos os filmes da saga e é um dos grandes motivos para eu achar a maior parte dos episódios uma tremenda seca. Então os dois primeiros episódios da saga são qualquer coisa de constrangedor...
Aliás, a ideia com que eu fico ao ver os seis episódios é que aquilo ficava bem só com 3 filmes, mas o sucesso fê-los inventar mais 3 episódios, para vermos o crescimento de Darth Vader e a formação do Império já perfeitamente estabelecido nos primeiros minutos do primeiro episódio (o IV). Claro que tal pode não corresponder à realidade - sinceramente não li sobre o assunto... -, mas que fico com essa ideia, lá isso fico.
Com isto, devo dizer que achei a primeira trilogia (IV, V e VI) em tudo superior à segunda (I, II e III). Acredito que em termos de ficção científica e efeitos especiais, o surgimento de "Star Wars" em 1977 tenha sido uma valente pedrada no charco (apesar de várias falhas perfeitamente identificáveis ao longo dos filmes, às quais não dou grande importância devido à época em que se realizaram as películas), mas basta uma comparação com "Blade Runner", feito poucos anos depois, e ficamos logo menos impressionados. Assim, os filmes da década de 70/80 são mais interessantes por toda a vertente da novidade, pela introdução dos diversos planetas, dos diferentes sistemas solares da galáxia "far, far awat", dos divertidos e estranhos seres inteligentes imaginados por Lucas, pela inovação tecnológica colocada ao serviço dos efeitos especiais.
Os filmes deste século são insossos e destacam-se apenas pelo aprimoramento das personagens (utilizando computadores e personagens virtuais) e pela melhor qualidade dos efeitos especiais e das batalhas - particularmente das coreografias nos combates entre Jedi's e Sith's, com os famosos sabres de luz (uma das grandes falhas dos capítulos IV-VI). A história, como já relatei, é praticamente inexistente, os diálogos são sofríveis e as longas cenas de batalhas ou corridas são desnecessárias e cansativas...
Uma crítica à saga em geral. Falta emoção. As batalhas acontecem sem que nada o anuncie, praticamente. Não há a criação de suspense, de empolgamento, as cenas são coladas à pressa... Isso retira também um pouco da piada ao filme. Também tenho que destacar algumas falhas na história... Uma das que me recordo melhor é os robots não se lembrarem, no início do episódio IV, das personagens que transitaram desde os episódios I-III, com os quais conviveram durante largo período.
Agora, as partes que mais me agradaram.
Todas as personagens desenvolvidas. Primam pelas semelhanças com seres conhecidos na Terra (falos dos diferentes seres inteligentes e dos animais selvagens ou domésticos), mas incluem elementos vanguardistas. Destaque para para a dupla robótica (C3PO e R2D2), sem dúvida o casal mais cómico da saga, e para o Yoda da versão antiga, que mais parece uma personagem saída da Rua Sésamo - com tudo de bom que isso acarreta. A desilusão acaba por ser o Darth Vader dos 80's, que tem um ar pouco assustador e sinistro, pelo menos não tem a carga simbólica do mal demasiado carregada e bem explorada. No último episódio dos filmes mais recentes, esse aspecto transmitiu uma muito superior carga de intensidade, que acabou por não ter correspondência. De resto, e tendo em conta as personagens principais, não há grandes destaques de interpretação, mas esse também não era o objectivo dos filmes.
Há ainda a destacar as indumentárias e instrumentos utilizados, que numa visão 30 anos à frente nos fazem esboçar um sorriso com as ideias que os autores da época tinham sobre o futuro. Penso que as coisas evoluiram rápido demais (noutros - por exemplos, os carros voadores -, não evoluiram) para os pensamentos que os autores de filmes de ficção científica tinham sobre o futuro. São visões interessante e comuns a todos os filmes do género. No entanto, é sempre difícil prever aquilo que se vai passar no futuro, e acaba por se rum exercício interessante e engraçado.
Para finalizar, e numa altura em que o texto já vai longo, devo dizer que considero a saga "Star Wars" um marco no cinema de massas, por toda a evolução tecnológica que despoletou e por todo o fenómeno que provocou devido às extravagantes e marcantes personagens que existem no enredo. Mas "Star Wars" no seu todo acaba por ser vazio de conteúdo, principalmente nos episódios mais recentes, que - repito - me parecem um tremendo "encher chouriços".
Não vou voltar a ver os filmes porque não me deixam saudades, mas fica o conhecimento geral e a possibilidade de integrar conversas que muitas vezes rodam à volta do Universo Lucas.
5/10
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