Este era um dos filmes deste início de ano que mais expectativas me gerava. Sou um fã do Martin Scorsese e gosto de todos os seus filmes (os que vi) e aprecio bastante as qualidades de representação do seu fiel acompanhante, Leonardo DiCaprio (nunca o vi fazer um papel mau).
Outro dos motivos que me provocava alguma curiosidade era a história e o género do filme, um pouco distante daquilo a que estamos habituados no realizador.
Sendo assim, Scorsese decidiu brindar-nos com um thriller psicológico, um filme repleto de suspense e momentos intensos.
"Shutter Island" passa-se na década de 50 e é sobre a investigação por parte de um Marshall ex-militar da II Guerra Mundial do desaparecimento de uma doente psiquiátrica do mais perigoso hospital/prisão psiquiátrico dos EUA, situado numa ilha completamente isolada e inacessível e da qual é impossível escapar. Logo aqui, o caso ganha contornos estranhos, não só pelas circunstâncias do desaparecimento mas também pela atitude das pessoas que lá trabalham.
Durante a primeira parte do filme, Scorsese consegue colocar de forma perfeita todas as cartas do baralho em cima da mesa. Faz-nos estar bem atentos a cada uma das personagens, a tentar descobrir os seus pontos fracos em busca da resolução do mistério. Só por aqui se vê a mestria do realizador, que nos deixa de facto com dúvidas em relação a tudo e todos. Depois ao longo do filme, mais revelações vão sendo feitas e as peças do puzzle começam a ligar umas com as outras, encadeando o filme e prendendo-nos do primeiro ao último minuto, porque não queremos - nem podemos - perder um único pormenor da história. É um filme que nos deixa colado ao ecrã e que nos faz ir pensando. Ou seja, o filme controla-nos a nós e nós não conseguimos controlar o filme. A cena dos fósforos é particularmente intensa e deixou-me com os nervos em franja.
O resto é classe de realização e de interpretação. A carga psicológica dada ao filme é poderosa e o ambiente circundante avassalador. É quase um filme de terror série B, tal a forma como é abordado, mas consegue também distanciar-se (ou não aproximar-se, depende do objectivo inicial) desse género de uma forma bastante original.
Os planos, a fotografia e as personagens fazem o resto. DiCaprio está magistral, como sempre. Aliás, não lhe conheço nenhum papel abaixo do "muito bom" (posso estar a ser pouco preciso, mas essa é a opinião com que fico depois de ver vários filmes em que ele participa). Ben Kinglsey consegue transmitir precisamente aquilo que lhe é pedido: mistério, segurança, certezas que nos deixam desconfiados. E até Mark Ruffallo, apesar de não ser um actor que aprecie muito, tem um papel bastante interessante e enigmático.
O filme segue o rumo que os seus autores decidiram seguir (e muito bem!) e a parte final é absolutamente soberba. Não alteraria nada no filme.
"Shutter Island" é enigmático quando tem que ser, é stressante quando tem que ser, é comovente quando tem que ser, é assustador quando tem que ser. Tudo na dose certa e no momento correcto.
"Shutter Island" é uma lição de borla a todos aqueles que querem (e tentam) fazer filmes de suspense ou thrillers. E há que aproveitar, que o mestre Scorsese não vai estar disponível a vida toda e provavelmente não voltará ao género. E ainda bem, que assim fica bem recordado.
9/10
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